Passa Lá Em Casa

Não faz nem dois meses que conheço a Joana. Desde minha chegada, ela foi super querida, mesmo falando pouco, eu gostava muito da companhia dela. Um dia destes nos esbarramos no mercado: 

- Passa lá em casa este domingo. Vamos tomar um café.
- Ah, pode deixar vou sim. – respondi no automático e acho que ela reparou.
- Não. Estou falando sério. Vai lá. Estarei te esperando hem.

E cá estou eu em frente a uma porta de ferro com buraco apenas para colocar a chave. Não dava para ver nada da casa. Do lado esquerdo tinha um baita muro alto, sem nada. Do direito uma grande vitrine, imaginei ser de algum comércio. Nossa como estou ansiosa! Entrei com cuidado, caramba, não devia ter vindo de bicicleta, eita passagem estreita. A casa ficava no fundo. Fui indo, fui indo...

- Oiiiii!!!
- Oi Joana. Cheguei.

Ali mesmo começamos a papear. Pelo visto, não era apenas eu a animada da história. Eu ainda estava fazendo amigos, estar no interior após 20 anos morando na cidade grande estava sendo meio complicado. O próprio convite foi difícil de entender, onde eu morava “vamos marcar um café lá em casa” e “ah, legal, vamos sim hem” era apenas isso, sem significados. Nem de cá marcava, nem de lá, ninguém tinha rancor. A vida era corrida demais.

Encostei a bicicleta, continuei andando e ao levantar a cabeça vi um grande espaço repleto de frutas, hortaliças, legumes e verduras. Foi uma das coisas mais lindas que eu vi. Parecia uma verdadeira estufa. Joana não parava de falar, coisa rara, eu a segui enquanto admirava tudo. Mas uma hora não aguentei:

- Joana! Para tudo! O que é tudo isso?
- Ah, são minhas plantinhas. Lembra?! Falei pra você como gosto de plantar.

Era verdade, ela tinha comentado. Cá entre nós, eu imaginei uma meia dúzia de vasos, ou, no máximo, um jardim no fundo do quintal. Que a propósito tinha um lindo moinho, eu acabara de notar quando olhei para trás procurando algo com sentido na minha cabeça.

- Joana. Isto é muitoooooo lindooo...

Ela deu um sorrisão toda orgulhosa, não era para menos, e me puxou para olhar tudo. Ia explicando cada detalhe e como cuidava das coisas por ali. 

Então ela parou em frente a um grande quadrado de vidro e abriu a porta. Nem tinha engolido toda aquela informação – onde eu morava eu só ia em hortifrúti – quando ela conseguiu abrir a porta. UOW!!! Um cheiro invadiu minhas narinas, deu até água na boca, e os olhos se perderam em pães, bolos, tortas além das hortifrútis, tudo organizado tão coloridamente. As paredes laterais eram brancas e as do fundo e da frente, transparentes em vidro. Choquei!!!

- Bem Vinda a minha “PadaBistrô”. – Era só sorrisos ao estender os braços para me apresentar o espaço. 

A mistura de padaria e bistrô era visível. Como eu não percebi? Tinha passado na frente diversas vezes. Mais do quê eu esperava, entendi o quanto a velocidade da cidade grande ainda estava em mim. Com certeza eu precisaria de muito mais tempo para reduzir meu ritmo.

- Vamos lá!!! Feche a boca e vamos tomar café.

O cheiro estava delicioso. Tudo tão fresco. Tão puro. Não demorei em segui-la, com certeza foi o melhor “passa lá em casa” já atendido e vivenciado.

0 Comentários