Existem urgências e urgências.


Como chegamos ao ponto de transformar tanta coisa em urgente? Além disso, menosprezamos o que é realmente urgente e o colocamos no final da fila. Você consegue pensar em alguma situação semelhante no seu dia a dia? 

Nestes dias pandêmicos essa urgência parece mais forte. Aos que trabalham em casa em período integral viram os horários de trabalho sumirem. Até parece que não existe mais o começo e o fim do expediente, trata-se apenas de 'o expediente'.

Cortamos uma conversa real para ouvir um áudio no whatsapp, um áudio que pode receber seu dedinho só depois que você finalizar a conversa real. Ou soltamos no automático: 'espera um pouco', a um chamado da vida real porque precisamos finalizar a conferida dos feeds e stories das redes sociais, mesmo que esse processo, pouco ou nada, vá te agregar.

Aceitamos uma reunião atrás da outra, sem parada para banheiro, para comer, para respirar - e olha que atualmente respirar é um tremendo privilégio. Em nome do 'preciso pagar as contas' esquecemos que mesmo na correria do dia a dia de um escritório real dávamos um jeito de ter 1 hora de almoço, de fugir para os minutos de conversa com o colega, de dormir e acordar para pegar o meio de transporte. Perdemos a habilidade de deixar algumas horas na agenda como 'ocupado' para driblar tantas reuniões desnecessárias que mais parecem terem sido marcadas para lidar com alguma carência.

Não somos mais produtivos por trabalhar em casa, nos tornamos escravos da ausência de como provar que realmente estamos trabalhando. Por isso, o final de semana não sabe mais qual é a sua função no calendário, juntou-se aos outros dias úteis e acha até estranho como alguns serviços continuam respeitando os dias de descanso, é um absurdo descansar... E ai do profissional que não atende uma ligação, ignora o whatsapp e deixa para amanhã a resposta do e-mail.

Sem horários, sem rotinas, sem calendários, sem limites temos nos bagunçado e nos enrolado mais do que novelo de lã com pontas soltas. A falta de ordem nos engole por conta do medo de não finalizar um trabalho - inclusive os escolares, pois tudo isso também cabe na realidade acadêmica.

E nessa urgência - não tão urgente assim - esquecemos de viver e conviver, tudo isso em uma época que mortes não podem mais ser contadas nos dedos e uma doença que escolhe aleatoriamente os seus com a necessidade urgente de lhe tirar a respiração.

Eu sei que são casos e casos, que devemos agradecer por termos empregos, que as contas não param de chegar. Apenas precisamos tomar alguns cuidados com as urgências apresentadas a nós. Olharmos para a nossa realidade e nos perguntarmos "qual é a minha urgência real?". Dica: seja sincero com a sua resposta. 

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