Uma Ligação

 — Oi, fiquei com saudades.

— Jura?

— Sim, muita mesmo. Eu não achei que ia ficar. Mas, você falou comigo e fiquei tão feliz que confirmei: você faz falta.

— Poxa, não fala isso, eu...

— Eu sei, eu sei. Mas eu preciso dizer. Acho que não tem mais jeito, você vai precisar me incluir na sua vida.

— Eu também senti saudades, eu até...

— Sério? Então por que não falou comigo antes?

— Eu tentei, tentei mesmo, mas não sabia se podia. Sabe às vezes eu...

— Devia! Deve! Eu quero saber se você tem vontade de falar comigo.

— Eu não tenho vontade de falar com você...

— Ah, tá! Entendi errado, eu pensei que...

— Eu tenho vontade de estar com você.

Silêncio.

— Você não vai falar nada? Ainda está aí?

— EU não esperava por isso.

— Por isso o quê? Eu quero estar com você mais do que somente falar e nos esbarrarmos vez ou outra.

— É?!...

— Às vezes não te entendo sabia? É como se fossem duas pessoas.

— Está me chamando de duas caras?

— Jamais. Como você pode ser tão inteligente e não enxergar o que está acontecendo?

— Não sei... eu só...

— Eu sempre fui honesto com você, desde o começo.

— EU sei, mas é que...

— É que você não quer aceitar o que está rolando aqui. Você só quer dizer que tem saudades quando sumo. E nem foi um sumiço real, acho que só fiquei bravo, bravo com você. Eu não queria te falar. Não queria te magoar. Aproveitei para afundar tudo de outra forma.

Snif. Snif.

— Desculpa, acho que ainda estou bravo, magoado, irritado. Que droga, devo estar com TPM.

Risadas.

— Tudo bem, sei como é isso, hormônios são mesmo uma droga.

— Se você diz...

— Desculpa por falar que estava com saudades.

— Que saco! Você continua querendo se fazer de vítima e não assume nada. Não vou desculpar c*****. Eu gostei muito de saber que você sentiu saudades. Foi a primeira vez que você demonstrou de forma mais direta e sentimental para mim.

— É né?!

— Sim!! Sim... eu te quero. Te quero tanto. Você consegue entender isso?

— Hum! Hum!...

— Então não entendo. Qual é o problema? Somos adultos...

— Somos. Sei lá, às vezes acho que tudo fica mais fácil mantendo essa distância, é como se fosse minha zona de proteção.

— Zona de proteção? Ninguém está em guerra aqui. Eu não estou querendo ser seu dono, possuir suas terras, nem nada disso.

— Será?

— Que raiva, estou com tanta raiva de você que quero te beijar para ver se você acorda desta hipnose idiota que está vivendo.

— Eu não sei o que fazer. É mais forte do que eu.

— Não é não. Você pensa que é, mas não é. Podemos facilitar tudo. Só basta você dizer. A gente não tem nada a perder.

— E nossa amizade?

— Se for de verdade, vai persistir.

— E o modo como você me olha? Me seduz? Me galanteia...

— Só tende a melhorar não sou do tipo que trata menos ou pior, depois que consigo o que quero. Na verdade, sou ainda mais cuidadoso, modéstia a parte, um ótimo amante.

Risos.

— Mas... E se eu não for tudo o que você está esperando?

— E se for mais?

— Não tinha pensado nisso.

— Eu sei, você tem o péssimo hábito de se subestimar. 

— Você me conhece...

— Muito!

— Estou assustada.

— Já notei.

Silêncio

— Ok, mas e se der muito certo?

— Não entendi. Qual o problema de dar muito certo?

— Bem... Vai doer bem mais quando algo sair errado.

— Não seja por isso, a gente faz dar meio certo, só por garantia.

Gargalhadas.

— E isso existe?

— Podemos fazer existir ué!

— Você tem um olhar diferente para tudo né?

— Eu diria que um pouquinho. Afinal de contas a vida nos deu dois olhares e 5 sentidos, não é mesmo?

— É verdade... alguns tem até 6ºsentido.

— Touché! Você está pegando o espírito da coisa.

Risos.

— Minhas mãos estão suando, meu pé está gelado.

— Por quê?

— Estou nervosa, sei lá.

— Por quê?

— Porque também te quero. 

Silêncio.

— Doeu tanto me falar isso?

— Hummm...na verdade, não.

— Como está se sentindo?

— Em êxtase.

— Isso é bom, não é?

— Acho que sim. É... diferente.

— Mas um diferente bom?

— É...

— Pare de pensar e seja sincera com você mesma. Finja que não estou te ouvindo. 

— Quero te ver!

— Uau, pelo visto é um diferente bem bom.

Risos.

— Estou falando sério. Quero te ver.

— Tem certeza? Não quero te forçar nada.

— Agora!

Tu...tu...tu...tu...

— Oi?!

— Caracas, como você é linda!!!

— Obrigada!

— Não se esconda.

— Desculpa.

— Não se desculpe.

Sorriso.

— Solta o cabelo vai.

— Está sujo...

— Deixa de bobeira e solta o cabelo, por favor.

— Depois não diga que eu não avisei.

— Ahhhh...bem melhor assim.

— Ei, acho que minha saudade aumentou.

— Jura?

— Certeza! Não sei se foi uma boa ideia te ver.

— Como não? Adorei sua espontaneidade de desligar e me retornar com a câmera ligada.

— Eu também!

— Mas então por que está recuando bem agora? Achei que estávamos nos entendendo.

— Estamos.

— Estamos?!

— Com certeza!!! Eu só...

— Fala, por favor, fala comigo.

— Eu só acho que não posso mais...

— Vai finca a estaca no meu pobre coração.

— Dramático!

— Sou?

— Muito!

— Mas você gosta vai...

— Amo!

Silêncio.

— Eu te atrapalhei, pode continuar, quero saber tudo, eu dou conta, apenas não me esconda nada.

Suspiros.

— Acho que não consigo mais falar com você deste jeito...

— Não?! Por que não? Eu posso fazer diferente. Posso recuar um pouco, ainda não estou pronto para desligar.

— Você é intenso né?!

— Só notou agora?

— Notei no primeiro dia.

— Jura?

Risos.

— Começo a achar que você que não faz ideia do que fez comigo.

— Não faço mesmo. Só eu falo, e você sempre reage ou responde de um jeito que não consigo entender se é brincadeira, se é verdade...

— Por isso me julga uma duas caras?

— Eu nunca te chamei disso.

— Não?!

— Não! Viu está fazendo de novo. Usa o sarcasmo, ironias e suas perguntas exclamativas para mudar a conversa, mudar o tom...

Risos.

— Vai rindo. É difícil te desvendar, você é cheia das entrelinhas, tem esse maldito sorriso sexy misterioso e parece que está tirando um barato com a minha cara.

— Eu jamais te desrespeitaria neste nível. 

— Eu sei, eu sei. Desculpa, me excedi.

— Sem problemas.

Silêncio.

— Você não vai falar mais nada?!

— Eu?!

— É, você! Você estava se abrindo para mim e foi redirecionando a conversa.

— Eu não faço isso.

— Faz sim.

— Faço?!

— Mais do que você imagina. É outra coisa que odeio em você, mas também me faz ter vontade de te agarrar.

Sobrancelhas no alto.

— Então me agarre.

— Oi?! 

— Me agarre!

— Você está falando sério? É o que estou pensando ou só mais uma das suas falas com mais sentidos do que posso identificar?

— Você fica tão filosófico quando sou sincera.

— Não brinca comigo, para com isso.

— Desculpa.

— Até me perdi. Você tem o dom de me deixar sem rumo. Nem sei mais em que pé está essa conversa maluca.

— Quer ajuda?

— Por favor...

— Resumido ou direto ao ponto?

— Direto ao ponto.

— Tem certeza?

— Absoluta!

— Ah... Então você sabe muito bem em que ponto da conversa estamos.

— Sei! Mas preciso ver e ouvir, sem gracinhas, você falando.

— Está bem!

— Falaaa!!!

Silêncio.

— Quero te ver amanhã!

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

— Travou? Você me ouviu?

— Ouvi.

— Então?

— Pode repetir?

— Para de ser bobo.

— Por favor.

— Sério mesmo?

A cabeça balança afirmativamente.

— Eu quero te ver amanhã, ao vivo.

— Ao vivo?

— Sim!

— Mas este detalhe não estava na primeira vez que me chamou para sair.

— Para de caçoar de mim.

— Você é linda sabia? Louca e linda.

— O que devo entender por este comentário?

— Exatamente o que eu falei, não sou eu que falo entrelinhas, então não tente ler o que não foi dito.

— Você está me matando. Não vai responder ao que acabei de falar?

— Verdade, esqueci. O que foi mesmo que você disse?

— Você está se divertindo com isso né?!

— Estou. Confesso. Mas também adoro assistir essa sua boca linda falando objetivamente o que quer fazer comigo. 

— Eu não falei o que quero fazer com você.

— Ah, não?!

— Não. Eu disse que eu quero te ver ao vivo, amanhã, porque estou com saudades.

— Olha só ... E as revelações sinceras só aumentam.

— Engraçadinho!

— Certo, eu vou ver se tem espaço na minha agenda e te envio uma mensagem.

— Você tá me zoando né?!

— Tô!!! Adorei assistir a sua expressão se transformando enquanto eu falava isso.

— Chato!

— Mas me diz, você vai só me ver, só quer me ver para matar a saudade? Porque assim, nós já estamos fazendo isso, agorinha, sem nem sairmos do conforto de nossas casas.

— Você vai mesmo me obrigar a dizer o porquê quero te ver amanhã?

— Imagina, eu?! Não, nem pensar, mas bem que você podia me dar uma dica né?! Só para eu ver se vale a pena o meu deslocamento. Afinal de contas, eu já tinha agendado um preguiçoso dia de pijama.

— O seu pijama vale mais a pena do que eu?

— É uma flanela especial, não julgue. Depois que é vestido, existe algo nele que quase o impossibilita de ser tirado do corpo.

— Bem... Eu posso ajudar.

— Ajudar?! Olha, olha, olha. Temos alguém se revelando.

— Você pediu.

— Pedi e estou adorando cada segundo. Por que demorou tanto?

— Não sei.

— Um dia você me conta.

— Quem sabe...

— Amanhã então?

— Amanhã!

— Por que não hoje?

— Hoje??????

— É hoje. Vai que amanhã você muda de ideia.

— Não vou mudar.

— E se amanhã acontecer qualquer coisa neste mundo doido que nos prenda em casa por dias, meses ou anos?

— Dramático!

— Sei lá né...

— Hoje não consigo sair de casa para canto nenhum, preguiça.

— Sei... É só este o motivo?

— Teria outro?

— Sei lá... Talvez você ainda tenha dúvidas.

— Não, eu não tenho. Acho que devemos dar um novo passo, que devemos arriscar e ver no que vai dar.

— Uau! Você foi direta e séria.

— Para não deixar espaço para interpretações.

— Gostei! Então é só por isso?

— Exato!

— Bom saber.

— Por quê?

— Porque estou indo para aí agora.

— OI?!

— Isso mesmo, só não vou se você disser claramente que mesmo eu me disponibilizando a largar meu super pijama para ir até aí, você prefere me ver só amanhã.

Silêncio.

Olhares.

— Eu prefiro que você venha, largue o pijama e vem.

— Ufa!!! Por segundos achei que você ia pedir para eu ir de pijama.

Risadas.

— É isso?

— É isso.

— Então eu vou, agora.

— Ok!

— Preciso desligar, demoro um pouco, mas chego. Manda o endereço para mim.

— Mas você sabe...

— Sei. Mas é a sua última chance de eu não aparecer, se você não mandar, vou entender e nos vemos só amanhã.

— Entendi.

— Mas você vai mandar né?!

— Claro que vou.

— Ok! Vou me trocar. Beijos e até daqui a pouco.

— Beijos, vem com cuidado.

— Pode deixar.

— Ei...

— Oi...

— Tô com saudades.

Sorrisos.

1 Comentários

  1. Ahhhhhhh, que delícia!
    Amorzinho na era das chamadas de vídeo, eu adoro muito!
    (Confesso que fui acompanhando SUPER ansiosa no que ia dar 😆😆!!)

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