Na Balada...


Eu até gosto de ir em baladas. Gosto mesmo. Gosto da ideia de poder dançar de qualquer forma, em meio a desconhecidos, sem problema em errar passos ou dançar passos fora do contexto.

As meninas sabem disso, por isso sempre me convidam para cair na noite. Nestes momentos, só tenho uma regra e elas simplesmente não entendem. NADA de álcool!

Gosto da ideia de ficar locona sem ajuda de mais nada que não seja água e minha mente ao natural

No começo elas ficaram bem bravas, mas não só se acostumaram com minha bebedeira sóbria, como aproveitaram para me usar como motorista da turma.

Isso tudo só para explicar que neste momento estou loucamente curtindo uma pista de dança. Com muita água na veia e muita energia para gastar.

A Joana foi para o bar pegar algum drink, a Lais já puxou papo com um menino e a Tati ainda não sabe o que fazer, já que a paquera dela parece estar no celular conversando com um mundo paralelo.

Sorri, joguei a cabeça para trás, braço para o alto e deixei a música tomar conta de mim. Era relaxante e libertador.

Senti um corpo se encostando no meu, saco, a única parte que odeio das baladas. Eu estar curtindo não significa que outro também possa curtir no meu espaço.

- Com licença - Afastei com as mãos.

- Oi gata...

- Te conheço?! - perguntei tentando manter distância. Ele já tinha bebido algumas, era visível.

- Prazer... que prazer hem!...

Ri forçadamente e o afastei mais um pouco - Pois é, agora se me dá licença, cai fora!

- Credo gata, é só uma dança.

- Sim, a minha dança. Sem vontade de dividir com você.

Desta vez acho que consegui ser clara, pois ele saiu procurando outra parceira de dança.

- Liliiiiii, você deu o fora naquele gato? Rico? Delícia?

- Oi?! - do quê a Joana está falando? - Jô, já bebeu demais é?!

Ela fez careta, tomou mais um gole e continuou.

- Não sua boba. Aquele é um dos sócios da balada.

- Ahhhhh. Legal! Um idiota, como pode ter noção de negócios hem?!

- Lili, você é muito exigente. Dá um desconto. Ele deve ter exagerado na dose. 

- Taí mais um bom motivo para manter distância. O cara não tem auto controle.

- Ok! Ok! Você venceu. Não vou gastar a noite te mostrando o contrário. Bora dançar?!

- Agora sim falou algo com sentido. - respondi, puxando-a para o centro da pista.

E voltei a dançar maravilhosamente com minha amiga. Eu estava em uma vibe super boa, quando abri os olhos dei conta de que o ser humano sem noção estava dançando comigo. Sério mesmo?

Não fiz nada, apenas virei o corpo e segui para outro lugar. Onde a Joana se meteu... Sem perder o embalo, segui procurando por ela pela pista até notar que ela estava acompanhada. Segui para o bar e pedi outra água.

- Motorista da rodada? - viro para o lado ao ouvir a pergunta.

- Oi? 

- Você está tomando água, deve ser a motorista da rodada. - e levantou a garrafinha de água me convidando para um brinde.

Dei uma risada de canto e respondi.

- Culpada! - tomei um gole da minha água. - Pelo visto, você é o da sua rodada né?!! 

- Podemos dizer que sim. 

Fiquei intrigada. Ele deve ter notado, porque continuou.

- Na verdade, eu quase nunca bebo. 

Oi?! Como isso é possível? Só pode ser pegadinha né?! Fiz uma cara de descrença.

- Pois é, eu sei... Eu sei... Pouco comum. 

- É... confesso que achei meio estranho. Nada contra...

- Sim. Já estou acostumado a ser aloprado por todos. Então, não ligo não.

- Certo. E qual o seu motivo? - Eu estava oficialmente curiosa.

- Oi gata! Volta para a pista de dança comigo vai.... - um ser humano cortou minha conversa, com um bafo forte de bebida, se achando a última bolacha do pacote. 

- Ei cara! - O meu mais novo colega cutucou o ombro do ser incoveniente. - Desculpa, mas, a gata já está acompanhada.

Foi estranho. O sem noção da vez apenas olhou para o cara da água, levantou os braços e bateu em retirada. Eu fiquei assistindo tudo aquilo, enquanto o novo colega voltava a atenção para o bar.

- Obrigada! Sou Lili. - estendi a mão para cumprimentá-lo. Ele sorriu, cumprimentou de volta e falou.

- Desculpe se fui muito intrometido. Mas...

- Que é isso... Fez bem. Este cara é um mala, estava me enchendo faz tempo.

- É...notei.

Oi? Notou? Como assim? Ele notou? Notou de agora, ou ele já estava me olhando antes? Peraê, ele realmente só bebe água ou... Sei lá, devo me empolgar por ele me notar no meio da balada, ou ficar preocupada por ele me notar no meio da balada? Droga de mundo que a gente não sabe se fica empolgada por alguém ficar olhando para gente, ou com medo de ser um stalker psicopata.

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