Corpo e Mente


Este lugar é realmente incrível, quando eu poderia imaginar estar aqui? A pousada é afastada de tudo, menos do mar. Ah, não, deste ela é bem próxima. Basta eu pegar um caminho de pedras e pronto, vejo o mar. Toda a imensidão de um azul se compondo com o verde. Respiro fundo!

- Aaaahhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!! 

Grito! Sem aviso prévio. Apenas grito. Começo a rir, a chorar... Sinto um novo ar entrando em mim. Preciso tanto dele para continuar respirando. Fecho os olhos, respiro fundo e dou o primeiro passo rumo ao mar. 

Ainda sinto lágrimas escorregando sob a minha face e não sei lidar com isso. Eu não consigo. Como eu queria poder lidar com tantas coisas que estão dentro de mim que são sufocadas pelo meu próprio sufoco

Nesta minha caminhada não sinto o massagear da areia nos meus pés, apenas a gélida água molhando meus dedos. Como pode ser tão calma, tão pequena e tão intensa. Tão gelada! Mas, não quero fugir, não quero. Quero continuar! Preciso sentir o resto desta água gelando o meu corpo, sentir sua intensidade para então tentar... Sei lá... Não sei o que eu quero tentar. 

Talvez eu só queira parar de pensar. Parar de pensar por alguns segundos. Sinto o gelado no meu umbigo, curvo as costas impulsionando o meu corpo para fora, como se pudesse fugir de toda a água fria que já dominou metade do meu corpo. É isso. Sorrio! 

Mergulho! 

Fecho os olhos. Tenho medo de ficar com os olhos abertos enquanto sinto o jato de água gelada por todo o meu corpo. Ui... Uma corrente morna. Como eu precisava disso. Volto, recolho ar e decido boiar. 

O sol arranha o meu rosto. Droga, esqueci o maldito protetor solar. Volto a ficar de pé no mar, encho as mãos com um pouco de água gelada para aliviar a suposta queimadura do rosto, como se ela fosse a solução para todos os meus problemas. Não é! Mas... que delícia! 

Respiro fundo. 

Sorrio ao me dar conta da beleza disso tudo. Tão mágico. Quero chorar de novo. É uma mistura de lágrimas e sorriso mordido pelos dentes - como se não fosse permitido sorrir agora. O sabor do mar se mistura ao sabor das lágrimas. Dou um giro de 360º graus forçando gentilmente as águas com minhas mãos, elas massageiam meus braços

Que sensação. Que liberdade. 

Levo uma rasteira. Do mar! Ele parece brincar comigo. Não foi agressivo, apenas desengonçado. Me afogo! Balanço as pernas, braços, emendo um mergulho. Mantenho apenas a cabeça fora da água e noto como minha pousada correu para longe. Também deve estar brincando. Ainda a vejo, está afastada, mais para minha direita. Não faço nada. 

Nado! 

Lembro das aulas de natação em piscinas fechadas, cobertas e aquecidas. Como será nadar aqui. Nesta imensidão de água? Bato os pés e adiciono ritmo com minhas braçadas. É cansativo. Não é tão simples. Parece uma batalha. A água não está parada, não é passiva. É pesada. Tem sabor. Tem textura. Sinto pernas e braços pesados. Paro. 

Fico em pé. 

A pousada se escondeu de mim. Pisco! Tiro o excesso de água dos meus olhos e esfrego com o dedo indicador na vã tentativa de aliviar a ardência. Vejo uma casinha. Ela sempre esteve aqui? É amarela... ou é a vista embaçada iluminada pelo sol? 

Enquanto caminho, uma forte corrente me puxa de volta. Acho que o mar gostou de mim. Dou pequenos saltos me livrando de suas amarras invisíveis. Minha curiosidade foi aguçada. Sigo em frente. Rumo àquela casinha. Ouço um alerta. Dou de ombros. A casa é amarela mesmo, mas está gasta pela maresia, pelo tempo, pela vida. Como eu? 

Paro a poucos metros dela. Sei lá quantos... 50, 100, 200? O que são metros

- Posso ajudar? 

Pulo assustada. Eu não tinha visto ninguém por aqui. Achei que era uma praia deserta. Droga. Já era. 

- Oi? – respondo sem me virar. 

Estou congelada e não é por causa da água gelada. O sol já secou o meu corpo, sinto apenas algumas gotas molhadas escapulidas do cabelo. E, talvez, do biquini encharcado

- Você está bem? – A voz está mudando de posição. Eu não. Ele veio para frente. Agora compõe minha tela. A casinha velha amarela. O sol. E ele. Caramba! O sol deve gostar dele. 

Ainda não consigo responder.

Olho para o lado, na vã tentativa de me localizar. Olho para o outro lado e nada. Apenas eu, a casa, o mar e ele.

4 Comentários

  1. Que leitura gostosa, deu uma vontade de sentir todas estas emoções e sensações fisicamente, queria um mar, queria amar......
    Está leitura me deixou com vontade de quero mais, escreve um próximo capítulo vai. Rsss
    Bju

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    1. Hihihi...você não foi a única pedindo mais hihi!...Ah, o mar e seus mistérios! ;-) Beijão

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  2. Como eu também gostaria de estar nesse lugar. Ele verdadeiramente nos renova. Somos penas nós mesmos. incertezas, medos, inseguranças e surtos. Extravasamos e deixamos tudo lá. Apenas um grito, apenas um silêncio. O calor do sol, a brisa salgada, apenas um silêncio. O vento traz o cheiro do corpo que me alenta, sim, não basta mais nada. Simplesmente é o que sinto ao ler esse conto.

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    1. Uau! Que delícia ler suas sensações desta forma. Fico super feliz de saber que minhas palavras tocam tão profundamente. Que poeta...Obrigada por aparecer. Beijão

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