O cara do café - Parte II

Voltei para casa matutando sobre o Rafael. A ideia era convidá-lo para almoçar comigo, com a velha desculpa de apresentar os lugares com uma comida menos cruel. Mas, não rolou. Como eu já havia sentido, o dia não estava dos melhores e, claro, foi o dia em que tive que descascar mais pepinos do que se precisasse fazer uma salada na casa da minha vó.

Não esbarrei mais com ele o resto do dia, fiquei tão envergonhada com a situação que só olhava de longe. Ele era uma graça. Tinha um ar misterioso fascinante. No final da tarde ainda rolou mais um café, minha terceira xícara do dia, estava com a cabeça tão cheia que acredito ter sido um dos poucos momentos em que não estava pensando no novo homem da empresa.

Dei graças a Deus quando cheguei na copa e estava vazia. Final de tarde é bom porque ela fica vazia durante todo o processo da produção do café, adoro. Posso ficar realmente sozinha. Uma paz e um sossego essenciais para quem ficará além da hora no trabalho.

Estava de costas para a porta da copa, brincando com um pano enquanto tomava meu primeiro gole de café, então, senti meu corpo pular para frente e meu café esparramar pela pia como resposta do susto levado.

- Opa! Calma, era para ser só um ‘oi’. – Aquela voz se explicou enquanto eu virava o rosto em sua direção, limpando a baba de café.
- Ah, é, oi!!!...Você é doido?! Me assustou...
- Desculpe. Não queria te assustar, mas afinal de contas o que faz aqui sozinha?!

Apenas sorri e mostrei o café. Ainda estava meio embaralhada com a situação. Afinal de contas o que ELE estava fazendo ali?! Era o horário da copa particular, ele não deveria estar ali.

- Ah..sim! E tem um pouco de café para mim ou, você já tomou toda a garrafa!? – Perguntou ele enquanto me empurrava para o lado na busca pelo café.
- Engraçadinho. Claro que tem. Está ali no canto, pode pegar e beber tudo se quiser. – Respondi e conclui que ele devia ser um amante de café, por essa razão estava ali, mas, fui surpreendida,

- Sabe essa história de beber café não é comigo. Ele é amargo, estranho, parece mais uma água suja e para completar tenho a leve sensação de que além de não me fazer bem, não me tira o sono...

Ei para tudo!!!! Ele NÃO gosta de café?! Como isso?!...O que ele estava fazendo ali?! Era quase final de expediente, as pessoas estão se arrumando para sair, não tomando café. Respirei fundo e dei continuidade na conversa:

- Hum...É verdade né. Sei bem o que quer dizer. Confesso que gosto deste lugar mais para colocar as ideias em ordem e, dar um tempo para mim mesma.
- Ah, bacana! Então você vem sempre por aqui?!

Puts, não acredito que ele falou isso. Hahaha...péssimo, sabe cantada sem graça de balada, me senti em uma. Quase respondi, não não, eu trabalho aqui, mas vou no café da empresa vizinha. Darrr...claro que apareço sempre na copa do MEU trabalho né. Mas eu não podia ser deselegante, mais uma respirada e abri meu sorriso simpático, mas não consegui pronunciar uma palavra.

Acho que ele notou a mancada, porque ficamos em silêncio por uns minutinhos. Então, ele olhou para mim e colocando a xícara na pia falou:

- Bem, acho que vou indo. Obrigado pelo café e pela conversa...A gente se esbarra por aí...é mas sem o café, claro. – Virou as costas e saiu rindo, não consegui nem dar um tchau decente, respondi um ‘de nada’ baixinho, ele com certeza não ouviu.

Agora cá estou, em casa, pensando, repensando e revivendo aqueles momentos com Rafael. Ainda não entendo porque mexeu tanto comigo, nem como não tiro ele da cabeça. O fato é que ter feito hora extra não ajudou a esquecer a novidade e, pelo visto, ele não sairá de perto de mim tão cedo.


Se você perdeu o começo da história: O Cara do Café - Parte I
Emma e suas confusas aventuras...

1 Comentários