Cardápio

Sentado em uma cafetaria qualquer, a mesa tinha quatro cadeiras para serem usadas, mas somente uma era utilizada. Um garoto de estatura mediana e olhar distante. Leu e releu o cardápio tantas vezes que deve ter decorado, mas não se decidia.

Às vezes, parava sua busca e olhava ao redor, ficava minutos parado fixando o olhar em alguma direção, não dava para compreender exatamente o quê procurava ou o quê chamava tanto sua atenção. O lugar estava repleto de pessoas, algumas pareciam enraizadas em suas poltronas outras inquietas. Havia também a movimentação daqueles que procuravam um bom lugar para sentar.

Tudo parecia não escapar dos olhos castanhos claros daquele garoto. Gastava 5 minutos olhando o cardápio e 10 minutos olhando a movimentação. Parecia estar mais interessado no ambiente do que necessariamente naquilo que era oferecido. Então, levantou a mão e acenou para uma garçonete.

Após anotar o pedido a garçonete se foi, porém sem êxito em levar de volta o cardápio. Era como se este livreto revelasse segredos ao rapaz, ou talvez, ele se sentisse menos solitário naquela mesa tão repleta de cadeiras. Quer dizer, não estava mais repleta, já que pouco a pouco as pessoas ao redor solicitaram, uma por uma, emprestadas. Ele, sempre com um sorriso no rosto, e muito simpaticamente, sedia o assentos.

Então chegou a bebida, não sei bem se era um chá, um chocolate ou um café. Nada mais, somente a xícara de tamanho médio, bebida quente, com certeza, já que a fumaça podia ser vista de longe. Tomou devagar, a cada gole observava e mexia nas folhas do cardápio. Em nenhum momento tirou a mão da asa da xícara. Seus olhos não revelavam muito, pelo contrário, cada novo movimento servia para tornar tudo mais misterioso.

Se levantou! Foi ao caixa, não quis aguardar a conta na mesa, pagou em dinheiro e saiu. Não olhava para mais nada, apenas caminhou de cabeça baixa até a porta de saída. Em seu lugar ficaram xícara, cardápio e pensamentos largados sem nenhuma compreensão.

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