Um Processo Doloroso

Um processo criativo pode ser terrivelmente dolorido. Já passaram quatro horas e continuo agoniada. É a sensação mais estranha que sinto.

É como se não fosse necessariamente eu. Apesar de ser completamente criação só minha e profundamente minha, já que era o meu subconsciente que estava produzindo tudo.


Uma produção de primeira classe, tenho que admitir. 

Nesta noite meus personagens invadiram o meu sonho, vieram me visitar sem aviso prévio. Apesar que, devo dizer, tenho certa satisfação nesta visita, pois significa que eu realmente consegui dormir. Dormir de verdade!


Mas, que loucura!

Acordei com o corpo doendo, como se eu realmente tivesse estado naquele carro e caído, em queda livre, de uma ponte muito alta. Bizarramente, como não bastasse, ele saiu com um leve arranhão, ela apenas tonta o suficiente para desmaiar logo após tentar sustentar o corpo com as próprias pernas. 


Tinha que ser irreal!

Ninguém sobrevive aquele tipo de acidente. Acordei imediatamente, e outras imagens me metralharam o cérebro, trazendo todos os acontecimentos anteriores ao acidente, ou eu ainda dormia?!

Não sei de mais nada, mas posso adiantar que ele tinha um rosto e eu só, parcialmente, sosseguei quando pude confirmar que tudo estava bem. E, mesmo assim, é como se alguém não cansasse de apertar o 'repetir' em minha cabeça.

Tudo naquele momento estava errado, nada daquilo deveria ter acontecido. O reencontro, a conversa, a afinidade... e minha cabeça continua querendo saber algo mais. Quer conhecer aqueles dois, entender o porquê o encontro mexeu tanto com eles. O porquê a felicidade dela estava abalada após esquecer de um comprovante de residência, no momento que era um documento obrigatório para ela começar a viver um dos seus grandes sonhos.


Droga, porque estou em outro país?!

Aqui não consigo uma internet decente para imprimir o comprovante que preciso para ontem. Por que não podem aceitar digitalmente? E a natureza gente?!

Eles se beijaram, antes de se darem conta que ninguém estava dirigindo, mas o carro só errou o caminho, acelerou e bateu naquela mureta de concreto - que devia impedir a queda de qualquer um -, quando ela tomou à frente da direção. Era tudo culpa dela?

Eu não estava no carro, não mesmo. Tinha acabado de sair do Fran's Café. Acabado de enviar um e-mail com os documentos para minha inscrição. 


Fui surpreendida pelo oi. Pós freada!

Cheguei a levar um susto. Achei que tudo estava sob controle, que eu notaria caso alguém se aproximasse. Mas, me assustei!

Ele e sua bicicleta me acalmaram com um sorriso. Foi por isso que não notei ele chegando, não era pedestre, era ciclista. 

Desceu, a colocou de lado para acompanhar os nossos passos. Eu, ele e ela caminhamos e conversamos. Por que mesmo? Nunca tive a menor intimidade com ele, na verdade..., quem é ele?

Reparando bem em você que está aqui do meu lado, no carro, você não é ele! Ele estava tentando me ajudar a encontrar uma boa internet para imprimir o maldito comprovante de luz.


Caramba, estou me sentindo melhor!

Ele estava feliz, tinha conseguido fazer a inscrição à tempo e agora estava me ajudando. Não queria que eu perdesse aquela oportunidade. Disse que eu merecia e, que estava sendo um pouco egoísta também, pois precisava de mim para lidar com aquele país de cultura tão fria. Apesar do calor de 40ºC.


É isso, estou sorrindo.

Respiro e sinto uma dor real no pulso e no meu dedo mindinho por ficar escrevendo. 

Ainda não consegui nenhuma história, mas vou conseguir em algum momento. Provavelmente, ainda terei um longo dia de flashes desconexos, até que tudo se vá e me deixe sozinha, em frente à papéis brancos e canetas ansiosas pelo fim da tinta que nunca acaba.

Até lá, torço para que outro sonho me visite esta noite, pronto para me perturbar e provar que voltei a dormir. Mas, não posso me empolgar, essa ansiedade pode me dar insonia.

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