A Grande Chance

Eu sai daquela reunião me sentindo vitoriosa. 
É raro ter tamanha tranquilidade em uma entrevista de emprego. Apesar da tremedeira habitual, que a gente torce para ser imperseptível, minha voz estava firme.

Eu sabia o que queria. 
Ao mesmo tempo, a negativa não era uma preocupação. As perguntas foram feitas e inteligentemente respondidas. Optei pela sinceridade. Deixei de lado o papel de funcionária do mês desejada por eles. 

Eu estava decidida.
Minha grande chance devia me aceitar como sou. Não serei mais consumida pela desumanização no ambiente de trabalho. A verdade é que eu estava na TPM e uma das coisas que a TPM me deixa é corajosa. Às vezes até demais. 

Eu estava encorajada. 
A conversa fluiu profissionalmente. Fui para o metrô leve, já me sentindo a nova funcionária contratada. Talvez eu seja muito otimista. Mas gente, é a minha cara. O emprego foi feito para mim. Notei no sorriso assustado da moça o quanto a vaga era minha. 

Eu odiava esperar.
Pelo menos, eles ainda me ligariam na mesma semana. Já era alguma coisa, às vezes as empresas nem dão sinal de data. Ops, alguém está ligando.

- Ah, oi?
- Oi, por favor, gostaria de falar com a Marília.
- É ela.
- Então, temos uma proposta para você. Pode falar?

Oi?! Como assim? Isso é verdade, é possível mesmo? Digo, quanto tempo faz que estou procurando emprego. Tá osso o mercado. Certo, respire fundo.

- Tudo bem, sim. Posso falar.

Era isso. Por mais surreal que fosse, dentro do meu pacote de Grande Chance eu havia adicionado várias Grandes Chances. Afinal de contas, porque precisava ser no singular? O mundo é muito grande. Infinitas possibilidades. Recusei ter apenas uma.

Essa ligação comprova como é importante expandir as fronteiras. A oportunidade era muito boa, bem dentro do sonhado. O único porém é que eles precisavam de resposta imediata. Por eles eu estava dentro, só dependia de mim. 

Eu estava no dilema de duas Grandes Chances.
É muito mais fácil decidir entre uma ruim e uma boa. Óbvio. Era um acontecimento raro. Minha vida continuava me surpreendendo.

Simples.
Se eu receber um não do outro, eu aceito esse. Minha carta na manga. Pronto, negociei uma data de resposta. Tava pra mim. 

Segui para a roleta do metrô. E após descer o primeiro lance de escada meu celular tocou.

- Marília? 
- Oi?
- Então, o trabalho é seu. Você pode vir na próxima semana para iniciarmos o processo de admissão? Mando os documentos no seu e-mail.
- Como?

Eu estava completamente sem chão.
Sério, até sentei na escada porque as pernas falharam. Eu não sabia se ria, se chorava, se beijava a primeira pessoa que passasse por mim.

- Ah, legal. Bem, ainda estou na rua. Posso te ligar depois para conversarmos?
- Claro, claro. Fico no aguardo.

É isso. Pensar... 
O que você faria com duas Grandes Chances na mão? Como avaliar qual é melhor, qual é pior? Acertarei qual é de fato A Grande Chance? E se eu escolher a errada? Se me arrepender? Tantos 'se' e tantos 'serás'.

Já sei.
- Oi, alô?! Então, eu recebi outra proposta.
- Como assim? Podemos conversar?
- Não. Obrigada. Obrigada mesmo. Mas, já me decidi.

Optei pelo menos óbvio. 
A minha grande chance estava na incerteza. Ainda preciso viver no inseguro para amadurecer e encarar o seguro cômodo. 

2 Comentários

  1. Nossa sensacional! Não vou procurar as palavras mais bonitas para escrever ou florir isso, porque fiquei muito empolgada com este post, vivi esta "Grande Chance" esta semana, e mais uma vez super me identifiquei com o texto e o contexto. Dá a impressão que estão escrevendo sobre mim, o título do blog faz jus Coisas da Vida...
    Parabéns!!! Sucesso para nós e nossas incertezas. Bjo

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    1. Oh você aqui de novo moça. Coisa boa! Novamente fico feliz em saber que o blog tem sido tão inspirador. É isso aí, muitas incertezas e sucessos nessa vida vivida. Beijão

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