Frágil Aquário

Protegida de todos os males do mundo e do trânsito, mesmo não sentindo o vento no rosto, eu podia pedalar por horas naquele aquário. O mundo acontecia do lado de fora e eu podia assistir sem ser atingida. 

Estava concentrada em respirar direito enquanto cada árdua pedalada levava embora toda a minha insegurança de viver. 

Considerava um privilégio encarar ladeiras invisíveis, brisas de um ar viciado e gritos mentirosos apenas para sentir o único momento livre da minha vida. 

Mesmo quando tudo parecia tão falso, minha mente ainda deixava eu sentir o prazer de estar em uma paisagem única com uma bela cachoeira. Tudo valia a pena e eu começava a acreditar em possibilidades.

Já no automático, me perdi nestes delírios perfeitos. Mas, seus olhos me encontraram. Eu senti! Era como se estivessem sussurrando algo. Quando virei para a esquerda ele estava do outro lado da rua, estacionado.

Tinha comentado com minha mãe sobre aquela presença, eu não era louca. Posso não ter visto das outras vezes, mas tive a mesma sensação. Não saiu do carro, nem se deu ao trabalho de tirar as mãos do volante, apenas ficou ali, respirando fundo e me encarando.

Minha mão escorregou do guidão, já todo úmido pelo suor, e eu voltei os olhos para minha professora. Contudo, a cabeça ficou lá fora, meu mundo de fantasias tinha acabado. 

Eu não estava mais segura. Aquele olhar!!!

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