Adulto Não Chora

Quando somos crianças aprendemos a chorar para ganhar algo. Seja uma mamadeira, um carinho, um doce, uma fralda trocada ou apenas um charme. Quando não sabemos nem falar, o choro é um dos melhores modos de se comunicar, ele incomoda tanto que a resposta é mais rápida.

O tempo passa e o nosso choro vai sendo civilizado. Aprendemos o quanto ele pode não significar nada, ou significar demais. Odiamos quando nos mandam 'engolir o choro', quando nos veem chorando, mas também o usamos para conquistar. Alguns afirmam ser o choro para os fracos, outros para os corajosos. Para meninas, não para meninos.

Choramos de tristeza, de alegria, de raiva, de empolgação. Para lavar os olhos. Aprendemos a controlar, porém, às vezes, nos descontrolamos. Assim vamos compreendendo o choro e suas funcionalidades. Não importa a quantidade de funcionalidades compreendemos algo: ele nunca será como quando éramos crianças.

O choro na fase adulta não faz tudo mudar em um limpar de lágrimas. Não quebra corações e abre colos para nos acalmarem. Ok, às vezes pode até ganhar um cafuné, mas certamente não ganhará uma mamadeira quentinha para saciar sua fome. Aprendemos ser um momento só seu, as lágrimas servem para si mesmo e para mais ninguém. Um alívio (falso alívio, às vezes).

Já adultos entendemos que o choro é um momento único e, muitas vezes sem explicação. Talvez o necessário para fazer respirar fundo e continuar em frente, ou o necessário para respirar fundo e dar um basta. O choro de adulto não é tão simples como aquele da infância - assim como tantas outras coisas -, tudo é conquistado na base do levanta, vai e faz.

Não significa que crescemos e perdemos o direito de chorar, a grande questão é que crescemos e não podemos mais aguardar após o choro, pelo contrário, precisamos limpar as lágrimas e continuar. Podemos chorar repetidas vezes, chorar até doer, não ter vergonha de chorar, só não podemos acreditar que as águas salgadas vindas de olhos emotivos são suficientes para lidar com a situação vivenciada.