O dia foi
agitado, o trânsito nem se fala. Nada mudou, a única coisa fora do comum foi
ter chegado antes das oito. Ótimo, proveitaria o tempo extra para fazer uma
comida mais decente. Não tinha ninguém em casa, corri para o quarto, larguei
minhas coisas na cama, liguei o rádio no som alto com uma música agradável,
deixei o computador ligando e fui para o banheiro.
Enquanto me preparava para o banho deixei o chuveiro ligado, precisava, pelo menos hoje, daquele banho bem quente com direito a muito vapor para limpar os poros.
Enquanto me preparava para o banho deixei o chuveiro ligado, precisava, pelo menos hoje, daquele banho bem quente com direito a muito vapor para limpar os poros.
Curtia o meu
banho extra especial ao som de músicas variadas. Então, as luzes apagaram, nem
tive tempo de assimilar tudo quando gritei por causa da água super gelada que
começou a molhar o meu corpo. Não acredito! A energia, só podia ser a energia,
tinha acabado. Droga, o meu cabelo estava repleto de espuma!
Enrolei-me
na toalha, fiz um penteado para segurar aquele cabelo cheio de xampu. Ah, você
acha que eu ia lavar naquela água gelada?! Tá loco, não dava não, estava pra lá
de gelada. Fiquei imaginando como alguém podia se virar sem um bom banho
quente, mas tem maluco para tudo nesta vida, né?!
Sai do
banheiro e tudo estava silencioso, apertei o interruptor. "Burra, acabou a
energia" – bati a mão na cabeça enquanto pensava na minha idiotice
automática. Continuei andando, apalpando as paredes e torcendo para meus olhos
se acostumarem com a escuridão.
O rádio já
não tocava música nenhuma. Fui direto para minha mesinha procurando meu
computador. "Só espero que tenha um pouco de bateria" – talvez ele me
ajudasse a descobrir o que estava acontecendo. Ainda tinha um pouco de bateria,
abri a internet e digitei "apagão em São Paulo". Nada. Putz,
novamente fiz burrada, esqueci completamente: sem luz, sem internet, a rede só
funciona com luz.
Televisão
não funcionava, rádio não funcionava, celular seria uma salvação se ele não
estivesse completamente descarregado. O carregador não carrega nada sem
energia. O jornal impresso ainda não se atualiza de maneira automática, logo a
notícia era velha. Droga! Como eu ia saber o que estava acontecendo?
A vizinhança
estava toda apagada. Era geral. Precisava passar o tempo, leituras estavam fora
de questão. Caramba, quanto tempo este apagão vai durar?! Na hora me deu um
clique: ligar para a Eletropaulo. Eles eram obrigados a me informar algo. Porém
a ideia foi logo descartada, meus telefones só funcionam com luz e, para
procurar o telefone da Eletropaulo, eu precisava do Google. Saudades das listas telefônicas e telefones analógicos.
Fui para a
cozinha fazer um cafezinho, pelo menos me distraía. Atividade cancelada, meu
café sai de uma maquininha bizarra, só funciona na tomada. Inferno, nada nesta
casa funciona sem esta energia que nem sei exatamente de onde vem.
Não
adiantava espernear ou xingar, nada poderia mudar aquela situação. Era só
esperar. Respirei fundo, voltei para o banheiro e fui tirar aquela gosma
nojenta do meu cabelo. Nunca fiquei tão sem ar e gritei tanto em toda minha
vida, os vizinhos devem ter ficado até preocupados. Não sou escandalosa, mas
aquela água estava puro gelo.
Fui para
cama e resolvi: a melhor maneira para se passar o tempo nestes momentos era
dormindo. Tentei me acalmar. O sono não vinha - ele nunca vem quando a gente
realmente precisa. Fiquei olhando para o teto e em algum momento dormi.
Sonhava com
um mundo claro, muitas coisas automáticas e tomadas funcionando. Preparava-me
para mais um delicioso banho quente quando fui despertada por uma música super
alta, luzes na cara, cheiro de café e televisão ligada. Levei um baita susto. A
energia tinha voltado. E eram duas da manhã, droga, eu só queria que tudo
tivesse permanecido apagado para eu conseguir tomar um banho quente pelo menos
no sonho!
0 Comentários