Felicidade foi se embora e a saudade do meu peito ainda mora...
Musical é uma das minhas paixões no mundo da arte de atuação. Acho o máximo como eles conseguem se expressar com a música e ainda dialogar com a história apresentada. Contudo, não são todos que realmente me agradam, e neste boom de musicais da Broadway em São Paulo, tomo certos cuidados para não entrar em ciladas.
O boom está aí e nossos artistas ganham espaço para trabalharem além das peças teatrais sem música. Bom para eles, bom para nós. Mas, será que não temos competência profissional para criarmos o nosso próprio musical? É realmente necessário apenas reapresentar os sucessos de fora? Para responder a pergunta fui fisgada e induzida a assistir Vingança - o musical.
O musical está sendo apresentado em um teatro pequeno, nada da grandiosidade e pomposidade do Teatro Renault e Bradesco. O valor, menos exorbitante ainda, a inteira sai por R$ 6. E, para completar, a casa optou pelo horário 'menos nobre' - durante semana a noite. Não se deixe enganar por estas questões, Vingança surpreende demais!!!
No palco a vida boemia ganha tom com uma banda ao vivo, digna de boates da década de 50 e auxilia a narrativa da história com música de Lupicínio Rodrigues - o mesmo que escreveu 'Felicidade', de onde o trecho que abre este texto foi retirado. Eu confesso, Felicidade era a única que conhecia, não lembrava quem era Lupicínio e me deliciei.
Será na boate, mesclando cenas na residência dos moradores, sem tirar a boate (como se ela fizesse parte das pessoas 24 horas por dia) que os seis personagens serão rodeados por paixão, sonhos, traições, desejos, tristezas, alegrias, verdades, falsidades e claro, vingança. A beleza da obra está na riqueza dos detalhes e no capricho da escolha do figurino e montagem.
Com pegada de Nelson Rodrigues e ritmo de Chicago, Vingança emociona, brinca, estrangula e faz o coração palpitar mais forte. Todos bem afinados, e melhor, bem entrosados, permitindo a ausência de cansaço em um musical de duas horas e cerca de 10 minutos de intervalo. A verdade é que não se vê o tempo passar, e se não fosse a vontade de ir ao banheiro, poderia excluir o intervalo, já que nos deixa completamente curiosos com relação ao que acontecerá no segundo ato.
As cenas ainda ganham brilho pela definição de como fazer bem feito. A violência física, sexual e movimentos do cotidiano não foram feitas de modo explícito, apesar de serem perfeitamente visíveis aos nossos olhos; tão brilhante como quando Hitchcock ensinou "não é preciso mostrar tudo, apenas o necessário para que a cabeça pense o resto". Os congelamentos e cenas em câmera lenta realçam a tensão do momento, bem como as confusões mentais e vozes de todos quando não sabemos o que pensar. Ainda tem a suavidade do balanço na lembrança da infância.
Se Broadway é visto como o lugar para dizer este ou aquele musical é bom, posso afirmar, Vingança é mais do que digna de Broadway. Impossível não aplaudir de pé, ou não querer aplaudir fora de tempo só porque a música foi entoada com perfeição. Toda a beleza me impediu de pontuar os pontos negativos, se existiram foram destruídos por todo o trabalho competente e profissional da equipe de Vingança.
Informações | ||
Data: | De 1º de maio a 4 de julho de 2013 | Idade recomendada: |
Horário: | Terça, quarta e quinta, às 20h | |
Local: | Teatro Centro Cultural Banco do Brasil | Rua Álvares Penteado, 112 - Centro | |
Bilheteria: | Terça a domingo, das 9h às 21h | (11) 3113-3651 | www.bb.com.br | |
Ingressos: | R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia entrada) |
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