Argo

                                                                Os verdadeiros personagens

Falar sobre Argo (Argo, 2012, EUA) é um desafio. Isto porque foi um filme que simplesmente fiquei encantada e indico para muitos. Logo, a necessidade de ser parcial com relação ao filme se torna mais complicada, e cá entre nós, quase impossível. Até porque Argo é realmente uma obra prima - até para quem não gosta do estilo de história.

A história, baseada em fatos reais, narra a ação dos Estados Unidos em tentar retirar seis diplomatas estadunidenses que conseguiram fugir da invasão à Embaixada Americana no Irã. Isto tudo em 1979, quando as relações Estados Unidos e Irã não iam muito bem. Um fato histórico ainda lembrado por mentes que mesmo no Brasil, assistiam tudo pelas televisões.

O filme já ganha espaço ao apresentar um momento real e um fato histórico, vale para aqueles que ainda sentem dificuldades em compreender as histórias que envolvem Irã, por exemplo, e ligam com tantas outras dos Estados Unidos. 

O grande fato curioso do acontecimento esta em não ter sido um resgate simples e muito divulgado, na verdade a história manteve segredo sobre como tudo aconteceu devido à necessidade de não prejudicar os estadunidenses que ainda estavam no Irã. Para o resgate o agente secreto da CIA, junto com a grande ajuda do Canadá, resolve fazer um filme, o nome: Argo!

O resto ou você lê em outra resenha, ou você assiste o filme - acho muito mais interessante. A grandeza de Argo está no modo sábio e inteligente que Chris Terrio adaptou o livro homônimo de Antônio J.Mendez e Matt Baglio. O livro se prende em questões como a vida do próprio agente da CIA, Antônio Mendez, e outros detalhes não tão necessários em um filme. Além de ser uma leitura mais cansativa, por ser um texto pouco literário.

Chris Terrio soube escolher o melhor do livro e transformar Argo em um suspense cinematográfico daqueles que te prendem na cadeira e te deixam à flor da pele. Com toda certeza, o Oscar de melhor roteiro adaptado foi para as mãos certas. Junto ao trabalho de Terrio a inspiração e profissionalismo da direção transformou o filme em algo a ser visto e revisto para se admirar os detalhes.

Ben Affleck atua e dirige Argo. Em ambos os papeis mostra a sua forte decisão em ganhar espaço de respeito em Hollywood, apesar dos pesares. A pesquisa, o cenário, o figurino, a edição de imagens, tudo coopera para um filme de primeira qualidade. Algumas cenas conseguem ser sensacionais - isto pelo belo encaixe e mistura de cenas da vida real com cenas da ficção. Exatamente como Mendez queria quando resolveu 'filmar' Argo para salvar os estadunidenses. Outra forte razão para o filme ter sido premiado com o Oscar de melhor edição.

Apesar do movimento das câmeras, as cenas não te deixam completamente tonto pelo excesso destes movimentos. As tomadas são bem pensadas e conectadas. As luzes, músicas e momentos psicológicos fazem sentido. Até a suavidade criada por leves piadas conseguem surgir de formar natural, nada parece forçado. Mesmo a granulação das cenas, para que ficassem com mais tom de anos 70, foi realizado de modo correto, pois não temos a sensação de estarmos sendo enganados quanto à imagem.

Definitivamente, uma direção original cuja assinatura de Ben Affleck ficou marcada, lembrando os remotos tempos de seu trabalho junto com Matt Damon, quando escreveram juntos o roteiro de Gênio Indomável. Ben Affleck ganhou diversos prêmios com este filme, e apesar de não ter sido indicado como diretor no Oscar deste ano, calou muitos quando o principal prêmio da noite, de melhor filme, foi para Argo.

Sim, Argo é um filme patriota, contudo, também sede espaço para agradecer a grande e humilde ajuda cedida pelo Canadá aos Estados Unidos em um momento que este se encontrava de mãos atadas. Mas Argo vai além, cutuca as decisões políticas, mostra as imperfeições do jornalismo, apresenta o mundo do cinema e toda a sua realidade de faz de conta, além, claro, do grande poder do coração humano quando este decide ir além do impossível.

Não é um filme bobo, mas também não se trata de um filme muito cabeça. Entretanto, certamente é um filme com grande qualidade e do tipo de filme que te faz relembrar o porquê admira e gosta tanto de cinema.

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Dicas e Curiosidades:
* Não vá assistir o filme com preconceitos por ser um momento histórico. Vá pensando em um filme de espionagem, com ação real da CIA, que aproveite melhor e até se surpreenda;
* Todas as roupas deste filme foram produzidas para Argo, não havia vestiário para a década de 70. Eles começaram do zero, após muitas pesquisas;
* As imagens em Teerã foram gravadas em Istambul, só a cena no Bazzar contou com pelo menos 250 figurantes;
* As imagens do aeroporto foram feitas no Canadá;
* Ben Affleck foi até George Clooney pedir para ser o diretor de Argo, cujos direitos eram de Clooney já fazia um tempinho;
* O Blu-ray de Argo possui extras realmente bons, para quem se apaixonar pelo filme, como eu, é um investimento a se pensar;
* O livro não é tão interessante como o filme, vale mais para quem quer saber o que realmente aconteceu e mais detalhes a respeito da situação.



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