"Graças à rotina do trabalho na Unesco, fui saindo pouco apouco da crise em que o desaparecimento da ex-chilenita, ex-guerrilheira, ex-madame Arnoux me deixara. Como se chamaria agora? Que personalidade, que nome, que história havia adotado nessa nova etapa de sua vida?"
O escritor peruano Mário Vargas Llosa mantém em Travessuras da menina má história, drama, paixão com uma dose de erotismo. Características fortes na escrita do peruano permanecem neste romance de idas e vindas onde protagonista Ricardo, também peruano, se apaixona por Lily, uma chilena. A garota tem seus segredos, não lhe dá bola e consegue lhe dominar de maneira incompreensível.
A história de Ricardo está apenas começando, se torna tradutor na Unesco, realiza o sonho de morar na cidade da Luz e reencontra Lily, não só uma, mas várias vezes, com nomes e vidas diferentes. Ricardo precisa lidar com essa intensa paixão não correspondida.
Llosa usa como pano de fundo os acontecimentos revolucionários no Peru, uma verdadeira aula de história, e os passeios de Ricardo por diversas culturas nos permitem agregar um conhecimento à parte de alguns países. A história é narrada lentamente, com precisões e descrições minuciosas, às vezes, torna tudo meio chato e não entendemos a necessidade de tanto detalhe, porém, de alguma forma, é impossível deixar de lado e não saber o que acontecerá entre a menina má e o bom garoto.
Existe uma brincadeira - momentos em que a narrativa nos tira o fôlego por sua vagareza e outros por sua agilidade. Brilhantismo para poucos. Algumas histórias e personagens são inseridas de modo a acharmos que o autor está começando outra história, ou viajou quando resolveu mudar de assunto, contudo, em questão de folhas tudo se conecta e dá a sua importância com relação a história maior. Absolutamente nada, no final, fica solto e todos os personagens ganham sua significância na construção do drama amoroso.
Era para ser uma história de amor boba, onde o bom garoto ganha muitas botas de sua amada menina má (dizem que bons garotos não costumam se dar bem no amor!), contudo existe um enredo diferenciado e interessante, Ricardo dá uma lição do que é sentir amor de verdade por uma pessoa, às vezes, podemos julgá-lo como burro, mas, será que também não tomamos atitudes pouco inteligentes por causa desse tal amor?!
Uma leitura agonizante, interessante, de torcida e, às vezes, caliente.
0 Comentários