Coisa de Avôs

Eu costumo evitar mercado na hora do almoço. Para quem nunca foi é um dos horários mais cheios e lentos. São filas grandes, poucos atendentes e muito estresse por metro quadrado. Quando só sobra este horário, vou com tempo, paciência e preparada para não ficar nervosa, assim costumo ganhar bons bate papos.

Claro, é preciso experiência para entender quais serão as boas conversas, e quais serão frias, porque sempre tem alguém pronto para arrumar encrenca. Ô, se tem!!!

- Você viu que lindo os olhos daquela nenê? – comentou a senhora atrás de mim. Me preparei para uma conversa demorada e respondi.
- Demais. É um azul difícil de encontrar né?!
- Ah, meu neto tem igualzinho, vou te mostrar.
Ela pegou o celular e começo a fuçar.
- Como é complicado! Ainda não sei usar direito.
- Poxa, pior que nem posso ajudar a senhora porque não entendo deste celular.
- Não fica tranquila, eu acho que é aqui.
Ela apertou para acessar as fotos. Não deu certo. Tentou outro botão. Abriu. Fechou. Desliza daqui, desliza de lá...
- Deveriam existir pastas mais organizadas. É sempre tão difícil encontrar as fotos.

Enquanto não encontrava, compartilhava as que podia. E, pouco a pouco, contava a história da família de maneira ilustrada. Conheci os filhos, o marido - falecido. – Agora ele é meu companheiro. – Olhou com carinho para o senhor ao lado, que sorriu de volta e colocou a mão no ombro dela.

- Poxa, mas eu jurava ter visto esta foto aqui. Não é possível.
- Sem problemas. Eu acredito em você.
- Ah, mas eu quero tanto te mostrar. Ele é tão lindo. Já está um hominho, já.
Eita, ela está tentando uma de cupido?! Procura, procura, procura.
- Opa, olha aqui, é ele.
- Uau! É muito bonito mesmo. Parabéns! Realmente os olhos são muito parecidos.
- Demais né?! Um gatinho.


E ela partiu, satisfeita por ter me apresentado seu neto. Ela não estava na fila. Ele não seria meu paquera, só se eu me congelasse e esperasse uns vinte anos. Ela só queria exibir com orgulho o neto. Afinal de contas, vovôs e vovós gostam mesmo é disso.

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