Vidros

                                                                                                        Foto | Pedro Lomba

O caminho era o mesmo de sempre, a diferença estava nos passos. Lentos e inquietos. Andava observando tudo sem saber exatamente o que estava procurando. Olhava por olhar, enquanto sentia um vento gelado naquela noite fria e movimentada.

Do outro lado da rua havia um lugar pouco interessante, vez ou outra passava por ele e até entrava, mas nada demais. Apenas uma de tantas outras rotinas presentes em seus passos apressados. Mas hoje, está noite, era diferente, algo estava estranho. 

Foi atraída a olhar para o outro lado antes mesmo de estar próxima do lugar. Não conseguia deixar de olhar. Do seu lado um vidro transparecia o outro lado, e do outro lado outro vidro transparecia cadeiras, mesas e pessoas. Era o que conseguia ver àquela distância, nada mais.

Forçou os olhos, na tentativa de enxergar algo mais. Na tentativa de enxergar alguém. Quando se deu por si já estava parada. Estagnada. Esperançosa. Talvez toda aquela atração estivesse acontecendo porque ele estava lá. Então colocou as mãos no vidro, encostou a testa, forçou os olhos e sentiu sua respiração acelerar - como nos momentos em que andava muito rápido para não chegar atrasada.

Não. Não viu nada. Nada daquilo que gostaria de ver. Nada da casualidade, nada de coincidência. Não estava lá. Uma vez para talvez, nunca mais. Sorriu para si mesma e se afastou. Estava surpresa pelo interesse. Continuou andando em frente, olhando às vezes para trás, para aquele vidro do outro lado da rua, pensando na possibilidade de um reflexo qualquer. 

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