Cadeira de Balanço: Jogos Vorazes

 "Snow pensava que Jogos Vorazes era uma forma de controle eficiente. Coin pensava que o paraquedas apressaria o fim da guerra. (...) A verdade é que viver num mundo onde esse tipo de coisa acontece não traz benefícios a ninguém"


No mundo da literatura para adolescentes, e mais crescidos, a febre do momento se chama Jogos Vorazes, da norte-americana Suzanne Collin. A trilogia conta a história de Katniss, uma garota que resolveu ir no lugar da irmã aos Jogos Vorazes. Katniss vive no 12º distrito, um dos distritos dominados pela Capital. A Capital realiza, anualmente, jogos em que cada distrito deve enviar um menino e uma menina para lutarem pela vida em uma arena criada pela própria Capital. Apenas um sai vencedor, isto é, um vive. 

Confesso - não tinha interesse em ler o livro e, para não ficar de fora, fui assistir o filme. Logo surgiu a curiosidade pelo livro e quando notei, já tinha lido a trilogia. 

Suzanne Collin consegue fazer uma literatura de fácil leitura, agradável e de envolvimento imediato. Entre ação, romance (que foi adicionado por solicitação da editora) e muita emoção, o livro consegue ir além. Um verdadeiro questionamento político-social. Alguns podem até ver um romance com pitada de ação, para mim, uma boa discussão sobre o comportamento de nossa sociedade.

A capital domina seus distritos de modo ditatorial, além do governo nada democrático, os distritos são pobres e pouco produzem para sua sobrevivência, mas são obrigados a enviar sua produção para a sobrevivência da Capital. Cada distrito é responsável por um bem natural, uma commoditie - gás, energia, carvão, comida... E, são lembrados, através da televisão, o dever em obedecer, caso contrário, sofrerão consequências como o Distrito 13, completamente destruído. (atenção à commoditie do distrito 13)

Os Jogos Vorazes também são usados para lembrar "quem manda em quem", além de serem uma execelente opção para o entretenimento de moradores da Capital, algo meio parecido com Big Brother, todo o jogo é televisionado, e modelado por seus organizadores conforme seus desejos, bem como seus participantes podem, ou não, ganhar a graça de um patrocinador.


E então, Collin coloca na mão de Katniss a possibilidade de liberdade, a proposta de todos compreenderem quem realmente manda em quem, com quem o poder está e como o comportamento das pessoas pode ditar todo o percurso de uma sociedade.

O livro mostra a velha história da briga pelo poder, cuja distância o ser humano parece não querer. Não sei ao certo até que ponto Suzanne Collin acredita atingir tão profundamente seus leitores, até porque, muitos podem não ver a quantidade de discussão apresentada pela autora. 

Contudo, acredito não ser em vão a sua tentativa, nos Estados Unidos, por exemplo, o livro tem sido censurado nas escolas. As desculpas são variadas: "insensibilidade”, “linguagem ofensiva”, “violência”, “sexualmente explícita” e “inadequada para a faixa etária”. Na terra em que a 'guerra' é vista como razão para conseguir a paz mundial, não consigo acreditar serem estes os verdadeiros motivos, mas sim, o medo de que os leitores de Collin realmente consigam ir além em sua leitura. Compreendendo o porquê foi necessário inventar um romance, entendendo como o mesmo se faz completamente desnecessário na obra.

Definitivamente, Jogos Vorazes mostra a voracidade de nossa sociedade e nos faz refletir se já não estamos dentro das arenas da Capital.

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