Caminhos

Acordou. Sem pensar duas vezes pegou a chave de casa. Abriu uma porta, abriu o portão e estava do lado de fora. Sentiu o vento gelado, se encolheu e então notou estar com seu pijama cor de rosa e de chinelo de dedo. O vento soprou novamente, desta vez respirou fundo na tentativa de pegar um pouco daquele novo ar para respirar melhor.

Fechou o portão e começou a andar. Precisava apenas de uma caminhada sem rumo, sem objetivo, com vento e muito espaço. Devagar e sentindo o vento gelado pediu para ele lhe libertar, lhe tirar pensamentos, lhe descansar a mente como quando se deita em uma rede enquanto a brisa do mar empurra ela para você dormir.

No final da primeira rua virou à direita, ia dar continuidade estava funcionando. Um dia nublado, não haviam carros e os pássaros eram seus únicos companheiros. A segunda rua foi mais díficil, o vento soprou mais forte, seu pijama era muito fino, sentiu como facadas entrando em todo o seu corpo, doia.

Avistou a esquina. Virou à esquerda, um cachorro branco encardido estava cruzando o seu caminho, ele a encarou e por alguns momentos ela teve a sensação de ganhar um sorriso, um bom dia. Esperança. Ele continuou a caminhada sozinho, enquanto observava ela sentiu que aquele percurso seria menos doido do que o anterior.

De fato apenas uma brisa bateu por ali e no meio do caminho uma árvore com grande copa esverdeada lhe concedeu um fruto, estranho, não tinha visto nada parecido na feira. Ele tinha o formato de uma maça, mas era meio colorido. Piscou duas vezes e sentiu sua barriga roncar, não pensou mais, pegou aquele alimento. Sentiu estar sendo saciada não somente da fome, como da sede e de algumas de suas preocupações.

Já estava longe da árvore ao se arrepender de não ter pego mais uma fruta. Virou à direita. A rua era estreita e incrivelmente árdua, isto porque sua ladeira era do tipo que precisava de corrimãos para auxiliar. Tanto era necessário que aquela rua tinha um corrimão do lado direito e outro do esquerdo. Ela se apoiou em um deles e subiu. Sentiu as batatas de sua perna endurecerem e reclamarem daquele exercício, o chinelo, vira e mexe, escorregava dos pés, a respiração ficava mais forte e mais rápida.

O sol forte surgiu tentando lhe empurrar para baixo, lhe cansando mais ainda, lhe cegando e enfraquecendo. Se sentiu sufocada, mas não podia desistir.  Dificuldades servem para nos treinar, ela sabia disto mais do que ninguém, por isso estava ali. Colocou sua mente em realizações e conquistas e deu continuidade. Precisava empolgar a si mesma, só dependia dela. No final não tinha mais esquerda nem direita, sua única opção era seguir em frente.

Em diante uma rua mais larga, ao contrário da subida era uma descida cujo final não podia ser enxergado. A facilidade lhe empolgou, mas o desconhecido que lhe aguardava fizeram suas pernas tremerem, já estava cansada demais para encarar qualquer perigo. Pensou em voltar pelo caminho que viera, afinal de contas, também seria uma descida com o final conhecido, aparentemente mais seguro.

Lembrou ser necessário encarar o desconhecido para crescer, para continuar e se permitir ter novas experiências em sua vida. Respirou fundo e foi ladeira abaixo. Não rápido, nem rolando, mas sentindo cada passo, cada espaço, se recompondo e se fortalecendo para qualquer surpresa. Apesar do medo, a curiosidade não desgrudava e parecia ser o combustível essencial para não parar.

Ao chegar, a surpresa. Um cruzamento com ruas à esquerda, à direita, em frente, seus olhos se perdiam com todas aquelas opções. Sua cabeça não sabia qual decisão tomar. Era preciso decidir ou permanecer no meio de um perigoso cruzamento eternamente. Ela olhou para o alto, como pedindo auxílio dos céus, não conseguiria fazer aquilo sozinha, saiu de casa só para respirar e o vento lhe deu várias possibilidades de decisões para tomar. 

Sentiu alguém pegar sua mão, olhou para aquele rosto ... lhe passava confiança, paz, alegria e sorriu. Sabia: devia fazer, devia tentar. Se o caminho não desse certo, o cruzamento sempre surgiria para lhe oferecer novas possibilidades. Respirou fundo, ajeitou seu pijama cor de rosa e arriscou.

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