Um Pão - II

Parte II

- Oi! Uau, vocês foram rápidos hem?!
- É que tava bem tranquilo. E você recebe bem fresquinho.
- O cheiro está ótimo! Obrigada.

Estava fechando a porta e senti ela sendo forçada.
- Oi, vizinha!
Levei um susto. Respondi com um tom de poucos amigos.
- Humm, cheirinho bom! Aposto que combina com minha geleia.
- É, ah... – Olhei pro meu pijama, arrumei com a mão e não resisti. – Quer entrar? O pão acabou de chegar.

Bem estranho ele aparecer do nada, mas fiquei curiosa e convidei mesmo. Bandido não era, o seu porte físico me lembrou do moço do jardim vizinho. Fui levando as coisas para a cozinha e ele veio atrás falando:
- Desculpe se cheguei, chegando. Ia trazer um pote de geleia pra você e, quando vi o entregador, aproveitei a deixa. Assim você abria a porta de uma vez só.

- Sem problemas. Só me espantei um pouco. Não estou acostumada com esta receptividade. – O tranquilizei enquanto arrumava a mesa com o pão, pratos, faca para cortar e para passar a tão comentada geleia.

- Sério?! Onde você vivia? Por aqui, novo ou velho, fazemos questão de dar um olá. Eu amo geleia, então, sempre dou as boas vindas com minha preferida. Sei lá, acho que já quebra o gelo por me revelar um pouquinho.
- Bem, bem interessante. Um pouco invasivo, mas, me acostumo. Você veio na hora certinha, a geleia ficará ótima no pão. Aceita um café? Um chá?
- Pode ser café mesmo. Pão com geleia e café. Hummm até aguei.

Mesmo com tanta novidade esquisita, consegui respirar fundo e relaxar. Só não gostava muito de estar de pijama, poxa, aquele gato e eu sem nada de produção. Eita murph. Ele estava super à vontade, um jeans e uma camisa branca manchada de terra e um tênis mega surrado. Definitivamente, não estava querendo nada além do boas vindas. Caramba, aquele jeito largado deixava ele mais atraente, sei lá. Guardei o pão doce para o dia seguinte, coloquei o café na mesa e me deixei levar pelo papo.

A conversa fluía, com certeza ele não era tímido. Em poucos minutos eu já sabia que era paisagista – agora entendi o porquê ele tinha um jardim tão lindo –, gostava de seriados e dividia a casa com dois amigos. Em meio a esta loucura inesperada, deu tempo de sentir o sabor magnífico daquele pão, ficou perfeito com a geleia. O problema foi: comi quase todo o pão sozinha para abafar o constrangimento e ele não parava de falar.


- Caramba, já se passaram duas horas! – Pulou da cadeira olhando seu relógio de pulso – Preciso ir, desculpe, me empolguei. A gente se esbarra por aí. Desculpe, seu nome mesmo é?!

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