Estranheza

Abri os olhos e você não estava mais lá, vocês não estavam mais lá. Acordei meio dia, sem seu barulho me despertando para ir trabalhar, sem seu choro reclamando por comida.

A cama continua confortável, uma olhada rápida ao redor e notei um quarto menor. À direita a claridade externa entrava pela janela, estranho, nunca tive este tanto de luz da minha janela. O armário estava à esquerda e cada canto da cama tinha uma mesinha. De um lado, uma luminária, uma caderneta e um prendedor de cabelo. Do outro, uma moringa, um celular sendo carregado. No canto, próximo da janela, um tablet descansava em uma poltrona. E na parede um lindo quadro trazia mais cor aquele espaço tão branco.

Ainda estranhando tantas mudanças, tantas ausências e tanto silêncio, esfrego meus olhos para trazer de voltar meu mundo. Sem resultado, levanto da cama, que não era Box – senti muito rápido o piso frio. O que estava acontecendo?

Fora do quarto, vestindo um camisetão da Mafalda, a sala me dava boas vindas. Um sofá vermelho de três lugares, dois ou três pufs espalhados, a televisão pendurada na parede e o rádio, pensando bem, aquilo parece mais uma plataforma de colocar celular, estava em um cantinho ao lado de uma máquina de expresso e pequenas xícaras. Engraçado, no alto, dois cantos da sala tinham caixa de som.

Não precisei ir até a cozinha, consegui ver dali mesmo, o estilo americano suportava meu laptop e dava abertura para o café aromatizar minha casa. Como se estivesse sendo puxada por ele, fui até lá, minha máquina era automática – o novo despertador – a cozinha tinha o necessário. Não entrei. Preciso lavar o rosto, é muita coisa para processar.

Meu banheiro era de tijolinhos brancos, e não, não era possível, tinha uma banheira. Confesso, não vi mais nada, não prestei atenção em mais nenhum detalhe. Mergulhar naquelas águas, provavelmente me faria voltar à realidade. Hum, mas será? Não sei mais se é o que quero.

Deixei a banheira enchendo, e fui me encarar no espelho na busca por respostas. O que estava acontecendo? Tudo mudou, exceto eu, eu era a mesma. O espelho refletia essa verdade. Joguei uma bomba de espuma na água e entrei.

Respirei fundo.

Mergulhei.

“Amor, tô indooo! Te amoo.”


Levantei assustada.

0 Comentários