O meu dia


Não entendo mais nada. Ele me rejeitou e, minutos depois, me beijou intensamente. Então, demonstrou irritação, falta de ânimo e perdeu a vontade de conversar. Até tentei dar a volta por cima, me empolguei por uma besteira qualquer, mas não adiantou. Quando olhei para o lado, ele já estava dormindo.

Talvez o problema seja eu?! Afinal de contas, quando outras pessoas se aproximavam ele ficava de bom humor. Era atencioso, educado e pré-disposto. A melhor pessoa do mundo, perfeito. Enquanto isso não olhava em meus olhos e não me beijava. 

Nada fazia sentido, não tínhamos brigado. Porém, no dia seguinte, ele insistiu neste comportamento. A minha presença não parecia necessária. Senti-me fraca e cansada, antes mesmo do almoço. Logo pensei: não posso perder mais um dia inteiro por conta de algo inexplicável. Precisava reagir. Por mim, não por ele.

No decorrer do dia descobri como levantar a minha autoestima. Lembrei como eu sobrevivia muito bem, em meio a tantos, sem ele por perto. E fui viver! 

Foi fantástico. Logo entendi como eu não podia ser uma mãe cuidando de um bebê chorão e mimado, o problema era dele, e não meu – mesmo me afetando de alguma forma. É claro que nunca compartilhei com ele estes segredos, e nunca irei. Eu apenas saquei ser mais um de seus jogos e não estava pronta para entrar como perdedora, pelo contrário. Como minha participação foi obrigatória, me vesti da melhor armadura possível.

Já estava escurecendo e eu me sentia mais leve, mais segura, mais feliz. Foi quando ele me abraçou por trás, beijou meu cangote e sussurrou ‘te amo’. Ele estava de volta, não sei de qual mundo, é verdade. Mas estava. Respirei fundo, reclamei do mau comportamento, sorri e o beijei.

Não, eu não estava sendo boa demais para ele. Apenas estava satisfeita comigo mesma. Feliz por ter visto naquela situação como só eu sou responsável pela tristeza ou alegria do meu dia. Mesmo estando com ele. 

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