Cuidando da sua grama

Ele nunca se preocupou muito com que os outros queriam ou pensavam sobre suas atitudes. Não fazia questão de ser o quê os outros esperavam. Era como se tivesse uma lei própria: eu vivo para mim, não para os outros. Parece simples, apesar de incomum nesta realidade de concorrência e exibição. 

Trabalhou como e quando queria, sem deixar de lado a excelência em seus trabalhos. Escolhia suas comidas, normalmente as mais saudáveis, não porque queria ser fitness, não mesmo. Enquanto todos comiam doces, ele se satisfazia com uma fruta. Não exigia dos outros o mesmo, mas também não dava satisfação.

Bebia. Amava beber. Não qualquer coisa. Apenas cerveja. Às vezes passava do ponto. Quando o corpo pediu, parou. Quando precisou, voltou. Foi vô tipo vovô, sem babação, levava para tomar sorvete, observava de rabo de olho, fazia comentários pontuais, sorria das brincadeiras. Inclusive, adorava dar sorrisos suaves para mostrar participação. Bagunça não era a sua praia, assim como não gostava quando subiam em seu sofá. 

Adorava ligar o rádio, ver fotografia, andar de carro e assistir televisão. Não foi longe nos estudos, mas demonstrava habilidades de um doutor. Pisou várias vezes na bola, não tinha como ser perfeito, mas era o seu jeito e paciência, ele não se explicaria.

Foi teimoso e inquieto, até onde achou ser necessário. Sobreviveu quando ninguém acreditava. Viveu mais um pouco da sua forma, sem ligar para os outros, mas, ao mesmo tempo, aproveitando o carinho extra da vida. 

Não era orgulhoso, nem egoísta, apesar de reservado e não pedir a opinião alheia. Era apenas um trabalhador-aposentado querendo viver a sua vida, do seu jeito, do seu modo, sem olhar a grama do vizinho. E foi assim até o seu último suspiro. Apenas sendo ele mesmo. 

Prefere ouvir? É só clicar:

0 Comentários