O Castelo e A Janela

Resolvemos ir visitar aquele castelo. Disseram que era super importante, imenso e cheio de boas curiosidades. Pareceu um passeio bem interessante, pelo menos, conseguiríamos nos divertir e conhecer um lugar diferente.

Não era exatamente o tipo de castelo explorado pelos catálogos de turismo e muito menos pelas agências de viagem. Se encontrei um ou dois blogs falando sobre ele foi muito. Na verdade, se não tivéssemos conversado com aquele casal no café, nem saberíamos sobre ele.


A diferença maior era que estava no fato de que o castelo se encontrava em um lugar distante, porém movimentado, isto é, não era o tipo de lugar no alto de uma montanha com vários obstáculos dificultando o acesso. Era uma coisa mais ao estilo castelo de Québec City, aquela cidadezinha francesa no Canadá. Quer dizer, o Castelo ficava no meio do caminho. Era apenas um meio do caminho fora das rotas turísticas, mas dos moradores, principalmente da época, se tratava de um percurso bem utilizado.

De fato, ao chegarmos lá nos surpreendemos. Era a coisa mais linda do mundo, todo elegante com sua pomposidade, feito de pedras e janelas diferentes das de seu tempo, algumas até pareciam futurísticas - por estarem tão fora do padrão da época. Lá ficamos sabendo que, na verdade, o castelo era mais utilizado pela princesa da cidade. Seus pais, rei e rainha, deram para ela - para ter mais privacidade.

Ficamos de boca aberta! Como assim? Naquela época existia esta possibilidade? O guia nos contou que de fato não era uma decisão comum para a época, até completou: "pelo visto, eles estavam mais à frente de seu tempo do que estas janelas nos contam". O espaço era maravilhoso, o castelo digno de uma rainha e uma rainha cuja ausência da casa dos pais não significava rebeldia, mas amadurecimento. Pelo menos, foi o quê deu a entender a história.

O salão principal, para as grandes festas da princesa independente, era grandioso como qualquer outro, contudo, tinha menos cara de velharia e rococós. Ela optou por algo mais limpo, linear, chegava a ser bem diferente das pedras vistas do lado de fora. "Mas, segundo nossos estudos, a princesa não dava festas escandalosas, ela gostava de algo mais intimista com amigos e quando oferecia festas para públicos maiores, fazia questão de não exagerar. Dizem até, que após suas festas, ela conversava com seus pais para saber a opinião deles, e estas noites eram uma das poucas que seus pais dormiam, em quartos reservados para eles, no castelo", conta todo empolgado o nosso guia.

Realmente uma história singular. Foi quando fomos surpreendidos por mais um comportamento completamente inusitado, inovador e até liberal. A princesa tinha banheiros específicos para banhos, nestes banheiros ela instalou 'chuveiros' - na época não existiam chuveiros elétricos mas, diz a história deste povo, que a ideia de um cano no alto caindo água veio deste castelo - nestes espaços ela fez janelas retas, estreitas e na horizontal. 

Estas janelas foram posicionadas na parte mais baixa da parede, como se fosse para iluminar os pés, e não eram fechadas: "a princesa optou por vidros, ela encontrou um modo para mostrar suas canelas sem ser tão publicamente, isto é, as janelas dos banheiros de banho davam para uma viela na vizinhança, e quem passasse ali no momento que a princesa estivesse tomando banho poderiam ver, claramente, suas canelas. E acreditem, só dava para ver isso, por mais que se esforçassem, não havia possibilidade de ver mais". O guia continuou contando a história... Eu só conseguia imaginar a cena e o nível do frenesi causado por estas janelas naquela modesta cidade.

Saímos de lá completamente deslumbrados e admirados com tamanha riqueza física, cultural e comportamental oferecido por um castelo tão ausente nas dicas de viagem.

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