Cheia de Vontade

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- Vou ser advogada, modelo e empregada. 
- Empregada?!
- É, eu quero ser as empreguetes, ou babá, adoro bebê. 

A garota devia ter oito anos de idade. Estava sentada no colo da avó, conversando de tudo um pouco. Resolveu compartilhar com a avó o que queria ser quando crescer, certamente surpreendeu. A nova novela das sete parece estar estabelecendo novos sonhos. Afinal de contas, qual profissão não é digna de ser admirada?! Porque a surpresa quando a garota enfatizou o desejo de ser empregada?

Enquanto comia milho cozido em seu pratinho de plástico, a garota não parava de falar, ninguém mais fazia barulho aquela hora da noite na lotação, mas ela falava como se tivesse acabado de acordar. Então, quando o milho acabou ela olhou para avó, apontou para seu pratinho já vazio e informou:

- É pra reciclar.

Com a maior naturalidade mostrou o quanto tinha compreendido a necessidade atual de reciclar lixos. Informou e ficou com ele na mão, não entregou para avó, não jogou no chão ou deixou de lado, apenas segurou e continuou a conversa.

- A Chayene finge que tá grávida do Fabian...
- Eu não vejo, não estou em casa quando passa. - Interrompeu a avó para explicar o porquê ela não sabia nada da novela. 
- Vê no seu celular que tem tv. - Respondeu a garota, com mais uma naturalidade impressionante, como se estivesse comentando, 'mas você tem tv em mãos, derr, é só assistir'.

A avó pediu para ficar um pouco quietinha. Ela então parou de falar e resolveu ler as informações de emergência que estavam grudadas no vidro da janela. Fez questão de ler em todas os idiomas apresentados: português, espanhol e inglês. Se cansou, olhou para a avó e comentou mais um pouco sobre o que tinha acontecido na novela - que aparentemente é da Chayene, não a Cheias de Charme.

- Na Chayene, roubaram as jóias da coisinha lá, eu não sei o nome dela desde que começou a novela. Ela é esposa do tubarão.

Então, em questão de segundos ela resolveu que estava na hora de entreter a avó. Começou a contar piadas, a avó não ria e ela não compreendia, os amigos na escola tinha achado engraçado. Então inventou uma com os personagens do Chaves, e nada. Tentou outra com a Rosário, a Cida e a Penha, também não conseguiu risadas da avó. Não se importou muito, ela ria sozinha com as próprias criações e continuou tagarelando.

Impressionante foi observar como uma garota de oito anos estava tão informada de tudo, não apenas da  novela, mas das novas tecnologias e dos ideais pregados constantemente na cabeça de todo mundo. Ela era uma criança globalizada, antenada, tudo de modo natural, como se outra realidade não fosse possível para ela. Sua rapidez e agilidade em trocar de assunto, ou misturar personagens, era tal qual de uma internet ou televisão quando zapeada. 

Por estas e outras, me nego a acreditar que a nova geração seja uma geração pouco atenta ou não consumidora da informação oferecida, pelo visto, elas ainda farão muito com o quê está sendo apresentado. Basta saber o quanto as gerações anteriores à elas, está disposta a ouvir, aprender e se interagir, porque a garotada nova nasce querendo conversar, e nós constantemente temos calado elas pouco a pouco, no decorrer da vida.

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