O palhaço da esquina

                                                                                             Foto | Carolina Teixeira

Ele chegou, estacionou sua bicicleta bem na esquina e tirou a camisa. Concordo que estava muito calor, e confesso ter ficado com um pouco da inveja de ele poder tirar e eu não. Então ele colocou outra. Uma listrada. Pensei o quanto a anterior devia ser quente, por esta razão a parada e troca urgente, tudo ali na esquina.

Eu não consegui tirar os olhos, aguardava sua partida. Ele não partiu. Permaneceu na esquina tirou um pano de dentro de uma...mala! Eu não tinha notado a mala. Como ele carregou a mala andando de bicicleta? Não era uma mochila. Era uma mala!! E lá estava ele tirando um pano da mala na esquina de um cruzamento movimentado.

Ele chacoalhou o pano como para desamassar e começou a enfiar uma perna de cada vez. Era uma calça. Não uma calça qualquer. Uma calça seguida por equilíbrio para passar um elástico de cada vez em cada braço. Toda larga, grande o suficiente para uma pessoa bem obesa ou para dois dele. Definitivamente era uma calça de palhaço.

Foto  | Carolina Teixeira
Tudo era feito com alegria, naquele sol escaldante proibido. E com um malabarismo rápido ele jogou um chapéu na cabeça. Olhou para os lados, limpou a mão no bumbum e sentou. Sentou ali mesmo, no gramado da esquina.

Amarrava os sapatos pretos de cadarço laranja, deu um laço em um e depois no outro. Então tirou de dentro da mala, ali naquela esquina movimentada, à vista de olhos curiosos, um espelho redondo e começou a famosa transformação facial, ali naquela esquina mesmo.

Como se estivesse em seu próprio camarim, e não em uma esquina qualquer, fazia tudo com cuidado, carinho e animação. Cumprimentava quem passava e sorria. A esquina era sua, de mais ninguém, ele era o anfitrião, o dono do espetáculo e os que passavam por aquela esquina seus mais queridos convidados.

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