Uma noite?



Quem nunca sentiu ciúmes ou teve uma pulga atrás da orelha que atire a primeira pedra! Relacionamentos possuem os seus momentos. Relacionamentos longos não impedem que alguns momentos de rabo de olho aconteçam. A fidelidade e traição são sempre discutidas - abertamente ou em pensamentos. Em Apenas uma Noite (Last Night, 2010 EUA/França) o jogo acontece em um quarteto amoroso muito bem articulado pela diretora/roteirista Massy Tadjedin.


A escritora Joanna Reed (Keira Knightley) e o executivo Michael Reed (Sam Worthington) se conhecem desde a faculdade, após um namoro de quatro anos de idas e vindas, se casam e já estão juntos há três anos quando uma festa deixa Joanna preocupada com a relação de seu marido e a nova amiga de trabalho Laura (Eva Mendes). Entre acusações e desculpas, Michael vai viajar à trabalho e Joanna fica em casa, onde coincidentemente esbarra com o antigo amor Alex (Guillaume Canet).

A história não inova - o casal em momento difícil da relação vê o outro mais interessante que aquele que está do lado. Oh dúvida, trair ou não trair. O filme se faz basicamente esta pergunta durante os 90 minutos de duração. Contudo, Massy Tadjedin ganha em recursos técnicos e o modo como narra sua história.

Massy optou por uma narrativa com paralelismo, a partir do momento em que Joanna e Michael se separam suas vidas ganham um acompanhamento diferenciado e contínuo. Em um momento Massy mostra a situação de Joanna ao encontrar Alex e outro o comportamento de Michael com Laura. E nestas mesclagens será possível observar o quanto cada um esta comprometido consigo mesmo e com a relação em si.

Os personagens são muito bem explorados. Joanna se produz todo para um encontro com um amigo, enquanto anteriormente a produção foi zero para sair com o marido. Michael sem muitas reações, representa o comportamento de homem confirmado por sua fala 'eu não esperava por isso' apesar de ter se direcionado para o final oferecido.  Laura e seu sex appeal compartilha uma história para lhe deixar mais mulher que precisa de cuidado, e Alex o homem compreensivo que deseja o sucesso de Joanna e largaria sua vida de tantas mulheres por ela.

Interessante observar o quanto Massy conseguiu desenvolver nos personagens o comportamento diferenciado entre homem e mulher. Isto é, a velha história de homem ser mais racional e mulher mais emocional. Incrível! O momento de Joanna é feito com toda a emoção possível, se trata de um antigo amor, cujo sentimento ainda é tamanho que faz com que pense nele sempre. No caso de Michael apenas um toque casual nas pernas de Laura desencadeia tudo, sua ausência de expressão no rosto não é à toa, apenas adiciona ao personagem 'homem'.

As iluminação e música conseguem ilustrar a tensão de uma situação em que nossa cabeça fica tão à mil que perdemos horas de sonos com a possibilidade do 'será que?'. Se a possibilidade de infidelidade tivessem uma luz e música, certamente seriam a escolhida pela diretora. Bem como o seu cuidado em dar atenção a coisas naturais no percurso da história, como o barulho da chave ou o modo de se produzir um café da manhã de noite.

Arrisco afirmar ter sido muito feliz e bem feita a estreia de Massy Tadjedin. O filme envolve mesmo sendo uma história cujos caminhos já sabemos e com um final brilhante, para a proposta oferecida.

1 Comentários

  1. Carol, eu amei! Muito bem escrito, tudo muito bem observado. E achei legal que você comentou um dos pontos da trama que eu achei dos mais importantes: a profundidade das relações. Joanna não chega às vias de fato com Alex, mas tem laços mais afetivos, em quem pensa nos momentos difíceis, e a quem jamais esqueceu, mesmo casada. Michael, por sua vez, pensa no amor da esposa enquanto está com a insinuante Laura, mas acaba não resistindo a ela. E não faz a menor cerimônia em voltar de viagem mais cedo, com peso na consciência, deixando-a para trás, pois o amor por Joanna fala mais alto.

    Enfim, adorei o filme, e mais ainda a companhia.
    Beijos!

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