Sonho Confortável

Ele não arrisca. Se acostumou a viver na mesmice, criou um mundo onde tudo gira em torno de si mesmo, sem novidades ou perigos que lhe desvirtue o caminho. Todos ao seu redor começam a ficar como ele, é confortável, apesar de massante e odioso. 

Todos desajam gritar, esperniar, chacoalhar e lhe dizer o quanto precisa acordar, correr, descobrir o desconhecido oferecido pela vida. Surpreender. Mas não, a cabeça parece não permitir reação, preferem fechar os olhos, boca, mente tudo, para manter a relação e permitir o não incômodo da maravilhosa ordem.

Ele nem nota. Como notaria?! O mundo dele é perfeito, exatamente como ele desajava, ninguém o impede de viver daquele modo, desta forma ele realmente acredita estar certo, estar agrandando. Pensando bem, ele não liga, não está nem aí se agrada ou não, o seu mundo é muito seu para se preocupar com os outros. O velho ditado é o seu lema mais significativo: os incomodados que se retirem.

Assim ele vai vivendo, sem graça, sem nada, sem perspectiva de novidades grandiosas, sem sensibilidade para entender que a está perdendo pouco à pouco. Talvez sua presença o satisfaça, mas é apenas uma presença física, de alguma forma ela nota não estar mais ali. Queria mais, muito mais, nada capital, contudo um mais que ele não daria...nunca!

Eles não ligam, não convivem ao ponto de exigir o mais. Estão satisfeitos, qualquer coisa basta partir e procurar outro que satisfaça o largado. Ela não, ela sabe o quanto está amarrada e como tem perdido a sua coragem. Coragem de viver. Coragem de arriscar. Coragem de perguntar.

Ele sorri. Passa a mão em seu cabelo, seu rosto. Beija sua boca e lhe dá a mão para mais um passeio, no mesmo lugar de sempre. Exatamente como ele sempre sonhou.

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