Corridas de 'Kombi'


Eu estava atrasada, mas por alguma razão era um dia cuja preocupação sobre o horário havia sido jogada no lixo. Um dia para deixar o tempo me levar da maneira como ele quisesse, era esta a vontade, sabia não ser possível, pelo menos não 100% devido aos compromissos inadiáveis.

Como para ajudar este momento letárgico, o meu ônibus passou quando eu não estava no ponto, mas do outro lado da rua aguardando o sinal ficar verde para eu passar em segurança.  Fiquei no ponto já sabendo que o compromisso teria que me aguardar muito.

Então a boa e velha lotação chegou. Alegria por estar vazia, apesar da certeza de não adiantar tanto, ela não faria em meia hora um caminho de uma hora. Resolvi sentar e manter o momento don't worry. Enquanto isso o motorista dirigia tranquilamente eo discutia com o cobrador algo pessoal que envolvia pelo menos duas mulheres. Até que:

- Ei é ele ali...Vamos acelerar que a gente consegue passar ele. - O motorista informou enquanto acelerava, naquele exato momento em que um ônibus de mesma linha foi visualizado eu sabia: tudo poderia acontecer. 

Ele começou a sua corrida.

- Caramba! Não sei se consigo passar ele, mas vamos colar vamos com certeza. 

Ele acelerou tanto, inclusive nas curvas, que se eu não estivesse no banco da frente certamente teria caído. Pois não sei se vocês já notaram, os bancos das lotações são incrivelmente desproporcionais a qualquer tipo de bumbum, todos parecem que ficam escorregando, principalmente se você tem pernas mais curtas, tudo bem que os de pernas longas também não se encaixam muito bem, enfim. 

É claro que estar na frente tem seu conforto, mas também em casos como este um momento de grande aventura. 

- Aeee...conseguimos passar. - Ele celebrou e eu achei que tudo tinha acabado, me enganei. - Ali oh, aquele também é outro...tenho certeza que é ele...- E pé na tábua!!!!

Depois da segunda ultrapassagem ele ficou tão feliz que não parou mais. Acelerou para ser impedido apenas por semáforos, inexistentes na Dutra ou Marginal Tietê. E então, lá estava eu no ponto final, o caminho fôra feito em meia hora, ele realmente conseguiu me tirar do atraso. Nesta vida de conduções variadas, tudo é possível.


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Em outro caso não tive tanta felicidade. A corrida foi um pouco perigosa e em uma brecada infeliz a batida. Todos foram jogados para frente, mas felizmente não houve feridos e a batida foi de leve. A torcida era para que tudo estivesse certo, desta forma não seria preciso descer e aguardar outra condução. Então o veredito final:

- E aí estragou muito? - perguntou o cobrador para o motorista que já retornava ao seu posto, após uma rápida conversa com o carro que recebeu um 'beijinho' da lotação.
- Então, foi mais o nosso do que o dele. Ainda bem que o dele não aconteceu nada. - Afirmou o motorista.
- Ah, que bom. Mas e o nosso? Como ficou?
- Então, sabe aquela grade da frente que a gente já amarrou três vezes?!?!...
- Hum?!
- Precisamos amarrar de novo.

Sorrisos tímidos surgiram nos rostos de muitos viajantes e seguimos viagem, afinal de contas, a cidade não para, nem nós.

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