Tem uma exposição ali?


Subi as escadas rolantes, seguia meu caminho comum, a mesma coisa de sempre. Contudo, no meio deste habitual caminho vi de longe alguns pés de suportes, olhei melhor e pude observar, em meio à multidão, sete suportes de alumínio com vidro e alguns desenhos.


Estavam alinhados, mais para o canto do grande corredor em que pessoas circulavam rapidamente ignorando a presença daquela exposição. Quase encostados na parede, com pequenos espaços entre si – suficiente para uma pessoa passar, parar e observar.

Nestes suportes, papéis, em tamanho A4 e A3, exibem desenhos do cartunista Dorinho, a princípio estranhos, um cara segura uma tomada e fica pensativo, como aquela estátua de Rodin, aos poucos, vou me familiarizando com a proposta. Uma análise crítica da realidade brasileira com os vários tipos de tomadas oferecidos. Uma dor de cabeça sem fim.

Apesar da graça, enquanto olho a exposição, minha atenção é mais roubada pela movimentação ao redor da própria exposição. Espaço grande, pequenas muretas separavam o alto do baixo, as escadas do caminho reto. Luzes brancas, pessoas que iam e vinham, contudo, não paravam, não davam atenção ao que estava sendo exposto. Os únicos que pararam, o fizeram por curiosidade em me ver tirando foto.

Um rapaz, jovem, de roupa esportiva e olhar curioso, seguiu em direção aos suportes, me animei, mas por pouco tempo, ele passou reto encostou na mureta de concreto e ficou ali, parado, sem fazer nada. Porque não aproveitou o tempo livre para ver aquela exposição?

Depois uma mulher mediana, morena, com uma grande bolsa pendurada em seu ombro esquerdo, atravessou, a passos rápidos entre os suportes. Não parou. Atravessou outra, como fazendo zig zag, não parou. Então, encostou em uma mureta perto do primeiro suporte, apoiou sua bolsa e começou a procurar algo. Encontrou seu celular, abriu, discou, segurou junto à orelha direita, afundou tudo na bolsa e sem fechar direito saiu falando. Até esbarrou em um dos suportes, tive à leve sensação do suporte ter se colocado à frente dela de propósito, mas nada, ela não parou.

E ali, naquele imenso corredor, os suportes com toda a pomposidade de sua exposição, sentiam o que era estar só em momentos de real solidão e em momentos de multidão. De tempos em tempos, havia uma alternância, nenhuma pessoa passava, nada, apenas o reflexo das luzes nos vidros, que protegiam os desenhos colocados nos suportes. Ou, uma multidão acelerada passava, sem olhar para os lados, apenas seguindo em frente como se tivessem cabrestos em seus olhos. Apenas, o reflexo de luz continua a brilhar naquela exposição.

E assim, parei de observar o que estava acontecendo para voltar meus olhos à exposição, tomadas de indecisão precisavam de mim, pelo menos, para sentir um pouco o que era ser de fato uma exposição.


Exposição: Tomadas de Indecisão
Do cartunista Dorinho | Heliodoro Teixeira Bastos Filho
Onde: Na estação de metrô Luz

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