Pesada, esvaziada, selada e enviada

                                                            Consumo | Carolina Teixeira

Atrás de nossos computadores, com a facilidade de nossos supermercados, podemos até fazer compras on-line - sapatos, roupas, comidas, jogos - não importa de quê. No conforto de casa basta clicar e aguardar, tudo chegará devidamente encaixotado, pode até atrasar, ralar, mas chega.

Vivendo constantemente com esta realidade perdemos a noção de outras, achamos que tudo simplesmente ficou mais fácil. Assim, como em um estalo de dedo. Para completar, as novas redes nos deixam reclamar sobre as compras, sendo ouvidos de verdade pelo  vendedor.

Então você esbarra com outra realidade. 

Ele estava com uma caixa grande, pesada, toda revestida daquele papel pardo tom laranja. Com dificuldade colocou em cima do balcão. Ia selar e enviar pelo correio. A atendente olhou bem a caixa, pediu para um colega levar para ser pesada.

Ele aguardou, ansiosamente, em pé. A moça voltou com o valor na ponta da língua, enquanto o colega recolocava a caixão no balcão. Ele ficou triste, o peso estava além do que podia pagar, não seria possível enviar. Conversaram.

Ele mostrou o lado da abertura da caixa. Ela pegou um abridor de cartas e cortou um pedaço do papel pardo, abriu a caixa. Na ponta dos pés ele olhou para dentro. Pediu licença, pegou a caixo e colocou no chão.

Pouco a pouco foi retirando as coisas, balançava para sentir o peso, então, escolhia se tirava ou não. Em um saco transparente tinha um punhado de biscoito água e sal, tirou; no outro um punhado de biscoito maizena, tirou; no outro um condicionador, um xampu e um creme, tirou o creme. O absorvente foi retirado, assim como o detergente e o Toddy.

Pegou a caixa, balançou e achou que era o suficiente. Devolveu para a atendente. Ela pesou. Foi possível recolocar o absorvente e o creme. Então, autorizou o envio.

E lá se foi uma caixa com compras do mês para algum lugar neste Brasil a fora.  Algum lugar cujo mercado devia ser tão caro que era mais barato comprar em São Paulo e enviar pelo correio. Algum lugar que a pessoa não teria condições de comprar pela internet no conforto de seu lar. Algum lugar distante o suficiente para não ter mercado com bolacha água e sal.

Nunca saberei ao certo a razão desta caixa ter sido enviada, com esses utensílios, pelo correio. Não com tanta tecnologia à disposição, nem em um país onde "todos tem acesso a tudo". Várias outras questões me vieram a mente, sem respostas. Apenas me arrependo de não ter perguntando o valor faltante para que alguém recebesse a caixa completa. E, talvez, reclame menos dos atrasos de entrega.

0 Comentários