Um gatinho na mochila

Era um morador de rua, não daquela exatamente. Fez uma parada para repor as energias, estava um pouco bêbado. Sentou, encostou na parede, tomou um golê da água em uma garrafinha qualquer. Ainda pindurada no ombro uma mochila, daquelas dadas pelo governo às instituições de educação, em um pulo algo saiu de dentro - um gatinho.

Era um filhote de gato, de rua. Não nasceu ali e provalvemente, assim como seu amigo, não tinha endereço fixo, nem satisfações a dar. Enquanto seu dono se hidratava, o gatinho brincava um pouco. Então, chegou a hora de partir para a próxima calçada.

Com dificuldades, sua coordenação motora não era das melhores, o morador tentou colocar o gatinho de volta na mochila, que inclusive era a peça mais nova e limpa do vestuário. Conversava com o gatinho, palavras de difícil compreensão. Com cuidado ia colocando aquele animal dentro de sua mochila para continuarem seu passeio.

Atrás de mim pelo menos quatro pessoas se rebeliavam. Não gostaram de ver o gatinho sendo colocado naquela bolsa, acharam um absurdo, era um gato e precisava de respeito. Entre outras questões mais. Mais um pouco elas iriam até o morador para lhe tirar sua única companhia.

Interessante, não pensaram no morador, não lembraram de suas bolsas Gucci carregando seus animaizinhos, ou suas coleiras, ou tantos outros animais largados na rua e outros mais. Apenas julgaram o morador com seu gatinho, como se ele fosse o grande vilão de toda aquela história. Ainda bem que ele nem ligou, ajeitou, cuidadosamente, seu gatinho, se levantou segurando firmemente sua bolsa, para não cair e continuou a andar.