Jornada


Algo estranho acontecia. Era como me ver através do espelho. Observava do alto todos os meus passos, minhas ações e reações. De alguma forma eu era minha própria narradora, mas não deixava de participar de todo aquele mundo particular. Em segundos estava em uma alta montanha, não uma montanha qualquer, era uma baita, gigante, tinha um mix de montanhas irlandesas com os grandes canyons norte americanos.

Estava sem ar, corria, corria desesperadamente e olhava com medo para trás. Alguém me perseguia, precisava juntar todas as minhas forças para correr por aquelas terras desconhecidas. Olhei mais uma vez para trás na esperança de não enxergar ninguém, torcia ao pensar na possibilidade de ter conseguido despistá-los. De fato, não estavam mais ali. Parei, abaixei meu tronco e descansei as mãos nos joelhos, tentado repor o fôlego perdido entre as montanhas. Ao retornar à posição original não enxerguei nada. Tudo estava branco, a neblina surgiu sem avisar e com uma força arrasadora. 

Nada podia ser visto. O vento não conseguia mais soprar com facilidade meus cabelos de tão úmidos que estavam. Comecei a ouvir passos, olhei ao redor e nada. Nada à direita, nada à esquerda, mas os passos se aproximavam. Junto a eles as batidas do meu coração aceleravam e eu sabia: eles estavam de volta, precisava correr.

Parei de pensar e corri. Desta vez nem olhei para trás, precisava encontrar um lugar para me esconder. Apesar de não entender a razão de tudo aquilo, sabia da necessidade de continuar e perguntar só depois. Então, num piscar de olhos, alguém estava do meu lado, correndo comigo, assim, sem mais nem menos. Começou a falar: 

- jefo klafemons pinek karamujo ronvon lindovan.

Ah!? Era incrível, uma língua estranha, diferente. De onde surgiu ele? E aquela língua?!

- uobaleon carajemon finek dinon somane -, respondi. Peraê? Respondi?!?! Em que mundo eu estava? Corria nas montanhas encantadas, enquanto falava uma língua bizarra, com um fulano qualquer?!


- ilion poren onon bi
- bi

Nossa conversa foi curta. Ainda não sei o que falei, mas, de alguma forma, entendi perfeitamente. Mudei o meu caminho, ele se afastou e vi, do outro lado do vale, uma possível salvação. Porém, ele me avisou, era preciso cuidado, não podia ir pelo caminho errado ou tudo estaria perdido. Aos poucos a visão foi melhorando, a neblina se afastava e pude enxergar longe. Aquele lugar não tinha fim.

Diminui os passos, não ouvi mais nada. Então, eles me cercaram, pareciam caídos do céu. Todos estavam mascarados e vestidos de ninjas. Ninjas!? Na Irlanda?! Tinham olhos puxados. Olhei para o alto, será que algum avião oriental caiu por ali?! Como num apertar de botão, coloquei-me em posição de combate e lá estava eu lutando kung fu com aqueles seres. Onde aprendi a lutar kung fu? Acabei com todos. Ah?!

Bati uma mão na outra para limpar todo aquele sangue sujo, aquela poeira. Caminhei sem direção, não me assustava com mais nada. No meio do caminho, um precipício, e no final dele, um rio levava com agitação suas águas negras cristalinas. Era muito, muito alto, parecia um laguinho, mas eu podia sentir sua força, sua raiva. Decidi dar a volta nele, não pularia. Além de perigoso tinha pavor de altura, nada me faria pular naquilo.

- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!

Batia meus braços desesperadamente como um pássaro em seus primeiros voos. Droga, eu não era um pássaro, apesar de na noite anterior ter conseguido voar pelas areias do Maranhão...a Irlanda americana deve ter tirado esta minha habilidade. Então cai, cai...e lá estava eu nadando, como um peixe, respirando dentro da água. 

Um peixe me acompanhou no nado. Estava só curtindo o momento, afinal de contas, estava viva. A paz durou pouco, ninjas aquáticos surgiram e pareciam ter motorzinhos nos pés. Nadei com toda a minha força e vi, ali na ponta, lá no final um M, um M amarelo...não podia ser?! Era?! Um McDonalds...no final daquelas águas havia um McDonalds!!!!!!!!!!!!!!!!

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