O ventania tira algumas coisas do lugar. No alto da rodovia atravessa um viaduto, neste viaduto há uma faixa, que, claro, não estava no seu lugar devido aos quase 90km de vento.
Então a faixa não resiste, seus grossos cordões já estão gastados pelo tempo e ela fica mais dependurada. Um caminhão passa e sua roda enrola o fio, traz mais um pouco da faixa, ela fica completamente balançando. Ninguém faz nada.
Os carros vão e vem, muitos nem observam os acontecimentos do mundo ao redor. Então, aquela faixa cansa, suicida-se na tentativa de ganhar a atenção negada por todos que passam ali. Um, dois, três carros e dois caminhões são atingidos por sua decisão. O caos!
A rodovia para. É interditada. Chega bombeiro, resgate, polícia, televisão no chão e no ar também. A faixa ganha sua merecida atenção, apesar de já não servir para nada. São 13 feridos, 5 em estado grave.
A televisão mostra o acontecimento e começa a discutir sobre a irresponsabilidade da prefeitura em não ter visto aquela faixa, a prefeitura fala não ter nada haver com a história, a obrigação era do estado, o estado afirmar ter passado a guarda daquele ser para a União.
O dia inteiro discussões, e mais discussões. Distute-se até a qualidade das faixas e cordões escolhidos para exposições ao ar livre. A qualidade dos freios de alguns carros, o atraso do resgate ao local do acidente, a vergonha do brasileiro em nem saber o que dizia aquela faixa...
A televisão mostra a via interditada durante várias vezes no dia. Com direito a vídeos filmados por celulares de pessoas comuns, um inclusive era de uma criança que estava em sua cadeirinha dentro de um dos carros acidentados. A altura da cadeirinha e sua resistência lhe possibilitaram tomadas de câmera dignas de cinema.
O trânsito é arruinado até não sabemos quando. Ninguém mais sabe exatamente o que aconteceu. Nada foi de fato resolvido. E, na liberação da pista, apenas no dia seguinte, eu vi, juro que vi, vários pedaços daquela faixa largados, ali mesmo, naquele mesmo lugar.
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