Cadeira de Balanço: Lavoura Arcaica

"...aquele que exorbita no uso do tempo, precipitando-se de modo afoito, cheio de pressa e ansiedade, não será jamais recompensado, pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas, não bebendo do vinho quem esvazia num só gole a taça cheia."

Lavoura Arcaica (1975)

Raduan Nassar

Não é possível ler apenas o primeiro capítulo de Lavoura Arcaica, após iniciar a leitura você se sentirá preso e desejará largar o livro só quando terminar. O bom é que isso não acontece somente no começo, toda a história é contada de maneira envolvente.

André é o protagonista, e narrador, da história, falará sobre o seu retorno ao lar. Algo no estilo o filho pródigo. De fato as menções biblícas vão além da história base. Neste retorno ao lar, André conta de seus aprendizados fora de casa e faz algumas revelações do porquê de sua fuga. A história discutirá comportamentos tradicionais, dramas familiares e descobertas.

Lavoura Arcaica consegue ser brilhante por ter uma prosa poética, Raduan Nassar brinca com suas palavras com uma voracidade e delicadeza de deixar qualquer amante literário de olhos arregalados. No decorrer da narrativa de André também é possível aprender muito com relação ao tempo e paciência, tão discutidos na obra e tão pouco compreendidos, principalmente nos dias de hoje. Eis aqui uma das questões a deixarem Lavoura mais atual do que nunca.

A história é tão bem contada que corremos para ver qual será o desfecho...O melhor, este final não destroí toda a história contada, pelo contrário, consegue (ou até aumenta) a beleza dos acontecimentos narrados. Talvez, exatamente aqui temos a riqueza de Lavoura Arcaica, conseguir uma singularidade em uma história tão clichê.