Cadeira de Balanço: 1808

"Os dois mundos que se encontraram no Rio de Janeiro em 1808 tinham vantagens e carências que se complementavam. De um lado, havia uma corte que se julgava no direito divino de mandar, governar, distribuir favores e privilégios, com a desvantagem de não ter dinheiro. De outro, uma colônia que já era mais rica do que a metrópole, mas ainda não tinha educação, refinamento ou qualquer traço de nobreza. Três séculos após o Descobrimento, o Brasil era uma terra de oportunidades imensas, típica das novas fronteiras americanas, onde fortunas eram construídas do nada e da noite para o dia".

Laurentino Gomes - 1808


Conhecer o Brasil pelos olhos de Laurentino Gomes é uma viagem à parte, um tanto quanto diferente da apresentada em sala de aula. Isto porque, se bem me lembro, o Brasil sempre foi uma colônia qualquer que deve agradecer o fato de Portugal ter investido nestas terras. De certa forma, por esse ensinamento escolar a maior parte dos brasileiros não tem tanto orgulho de sua terra, e de quebra, continuam a pensar que o de fora é sempre melhor.

O olhar de 1808 é um pouco diferenciado, de certa forma, atualmente, Portugal só tem a agradecer ao Brasil. Se não fosse a fuga para o Brasil é bem possível que Portugal tivesse uma história mais curta. D.João ficou morrendo de medo de Napoleão e todo seu exército, correu para o Brasil, enganou um dos melhores exércitos e aproveitou o grande território novo que tinha em mãos.

O Brasil precisava crescer e, infelizmente, foi mau administrado, mas inicialmente foi ele quem sustentou a família real e seus quereres. Portugueses, estrangeiros e até brasileiros já tinham uma condição favorável quando a família real desembarcou por aqui. A ajuda destes foi mais do que necessária para a continuidade da família real e de Portugal.

Laurentino tem uma escrita simples e bem dinâmica, um ritmo diferente daquele presente nas cartilhas de história das escolas. Em pouco tempo nos assustamos com o tanto que já foi lido e aprendido. Uma maneira diferente de conhecer mais sobre o próprio país. Descobrir o quanto fomos bons em tantas coisas, incrível como sempre fomos tão 'limpinhos', e a corrupção - bem faz parte do país não só por motivos brasileiros.

Não foi tudo um mar de rosas, duas culturas diferentes tentando entrar em acordo para formar apenas uma. Por D.João sua terra seria esta para sempre, se não fosse as responsabilidades de seu trono. A leitura de 1808 se faz necessária para compreender muito do comportamento atual. Às vezes, Laurentino repete sua fala, contudo a própria história tem um pouco disso e o jornalista se mostra competente em sua narrativa.

Sempre fomos festeiros e ninguém tira isso de nós, não é um ponto negativo, pelo contrário, é positivo, entretanto fomos criados para aceitar nossas características como inferiores as dos outros. Pena. O fato é que já fomos a 'América' dos portugueses. E, muitos quiseram essa 'América' para eles - franceses, britânicos, espanhóis, etc - mas Portugal sabia o que tinha nas mãos, então segurou até onde pode.

Soube, da melhor maneira possível, administrar um território tão grande, com comportamentos tao diferenciados, e, na medida do possível, preservar uma unidade para que hoje pudéssemos ser um grande país.

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