O cara do elevador

Mais uma aula, nada mudava. Estava cansada dessa rotina besta, mas me recusava a faltar só para alterar, queria apenas uma novidade extra, algo mais interessante, algo além das palavras incompreendidas e analisadas no decorrer dos 50 minutos em um cubículo refrigerado.

Tentei me concentrar, porém parecia um dia incomum, de alguma forma minha mente tentou me entreter, me obrigava a explorar o desconhecido. Sabe, esta história de não podermos nos satisfazer com o normal às vezes é bem cansativa, hunf, só queria ficar quieta no meu canto.

Então me esparramei em três carteiras, calma.... sentei que nem mocinha, mas precisava de espaço para espalhar as papeladas e pensar ué. Virei o rosto na direção do professor e lá estava ele entrando, tão na dele como eu mesma, apesar de não parecer estar de fato presente naquele lugar. Tive a sensação de só o corpo dele participar da aula.

Todas as aulas era assim, ele sentava no canto dele, eu no meu. Ele sempre tinha algo para discutir com o professor, e eram palavras inteligentes. Eu?! Bem, eu sempre engasgava e quando falava não condizia com o que estava sendo discutido, cabeçuda pra caramba.

No último dia de aula entrei no elevador, novamente eu e aquele monte de botões, me levariam para qualquer lugar, desde que numerado no painel.

- Ei, segura por favor!!! - Gritava e corria, tudo ao mesmo tempo, meio desengonçado. Era ele.

Pronto, se eu já tinha dificuldade para respirar dentro do elevador, agora eu teria um ataque de asma. Era apenas eu e ele. Você entendeu?! Imaginou a cena?! Eu e...ELE!!! Incrível, nunca tinha ficado tão próxima...

- Obrigada! - Me agradeceu com um lindo sorriso no rosto.

Tentei não dar bandeira, foi super difícil meu peito parecia querer me dedurar naquela famosa respirada profunda...

- Por nada!....e a abaixei a cabeça, para não dar tanta bandeira, certamente minhas bochechas estavam rosas.

Ele continuou a conversa, ou pelo menos tentou, aquela coisa de conversa de elevador, eu apenas sorria e concordava com a cabeça. Infelizmente, tive que descer antes, queria muito ter ido até o final com ele. Nunca mais vou vê-lo. E ele nunca mais me notará, afinal de contas, só foi possível porque ele precisava do elevador e só tinha eu lá dentro, foi educado.

De volta a realidade, as novas aulas chatas, com as mesmas ladainhas de sempre e nenhuma novidade para empolgar.

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