O país do futebol


Sabe aquele ditado 'o mundo dá voltas', pois bem, dá mesmo. Por exemplo, o futebol. Vindo da Inglaterra, apenas a elite tinha contato com o esporte, era para poucos e 'brancos' - meio como o tênis é atualmente. Ele começa a ser popularizado por jonalistas, em suas crônicas, antes mesmo da bola rolar em uma várzea qualquer.

Mário Filho (1908-1966) foi um dos precursores. Sua família, jornalistas, saiu de Recife rumo ao Rio de Janeiro onde fundaram um jornal. Em suas crônicas apresentou um esporte possível a todos, assim como discutia questões sociais no futebol, inclusive com relação a presença de jogadores negros. Mostrou o quão elitista o futebol era e não deveria ser. Além de, com muito senso de humor, observar o quanto o futebol criava modas. Sim, não é de hoje que jogadores valorizam roupas e chuteiras arrecadando rios de dinheiro para as mais variadas marcas. Até os cortes de cabelo já eram copiados pelos torcedores.

A linguagem simples em seus textos foi essencial para aproximar o futebol da população. Seu envolvimento com o esporte foi tanto que desenvolveu o primeiro jornal esportivo no país, destacando o futebol, e foi homenageado de maneira única, o Maracanã leva seu nome.

Nelson Rodrigues (1912-1980), seu irmão, também usou o futebol em muitos de seus textos. Mais conhecido pela sua dramaturgia de tragédias urbanas polêmicas, também 'causou' com suas crônicas sobre o futebol. Para Nelson o futebol será mais épico, isto é, grandioso, seus textos supervalorizavam o esporte.

Seu texto tinha uma vivacidade única, incomodava o leitor, desta maneira era relembrado e discutido no dia seguinte à publicação. Também terá grande senso de humor, mas um humor mais apimentado, mais passional, mais emocional. Sua riqueza textual não é tão objetiva, faz questão de comparar as ações no futebol com acontecimentos históricos e adorava utilizar bordões. O brasileiro começou a se identificar com o esporte e através dele sentiu um 'poder' antes não presente. Com as vitórias de 58 e 62, em Copas do Mundo, a identidade do Brasil com o futebol só aumentou.

Os dois irmãos, de certa forma, se completam e transformaram o futebol brasileiro com o poder das palavras. Mário aproximou o futebol ao cidadão comum, Nelson supervalorizou o esporte, aproveitando para valorizar o 'brasileiro' através do futebol. E então, nos tornamos o país do futebol.

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