Cadeira de Balanço: Interpretação do Brasil

"Coisas úteis somente para os europeus, utilidades e confortos bons somente para os ingleses, escandinavos, russos, alemães e para os habitantes dos Alpes, eram mandados em abundância para o Brasil tropical - agasalhos de inverno, aquecedores, patins para gelo. É verdade que muitos desses artigos de inverno foram adaptados pelos brasileiros para a lavagem do ouro nos rios de Minas Gerais, muitos dos aquecedores, aproveitados nos engenhos de açucar do Nordeste, e mesmo para os patins se encontra no Brasil uma aplicação nova(...)".

Interpretação do Brasil - Gilberto Freyre


Gilberte Freyre é o famoso sociólogo que causa discussões em meio aos estudiosos, sobre as diversas facetas do Brasil. Já escreveu vários livros, artigos, e o que puder imaginar, sobre nosso país. Existem os que o consideram o 'deus' da interpretação de nossos comportamentos e, aqueles, que acham seus estudos bem falhos.

Independente do que pensam, ou deixam de pensar, Interpretação do Brasil é uma boa opção para conhecer o escritor e um pouco de suas avaliações sobre o Brasil. O livro não é grande, como Casa Grande & Senzala, e tem uma escrita bem agradável, nada de palavras difíceis nem termos teóricos demais.

Conhecer o Brasil além dos olhares de nossas cartilhas escolares é uma experiência interessante. Com grandes descobertas, por exemplo, não somos tão pobres coitados entre outras coisas mais. Soubemos lidar com as novidades do lugar e, de certa forma, fica mais fácil entender o porquê as mulatas, índias e o sexo feminino fez tanto sucesso.

Alguns detalhes pequenos que fazem a diferença na construção de um todo. Ver uma São Paulo que já na década de 40 era 'metida' por ser a 'locomotiva do país'. Ou observar que somos vencedores por conseguirmos nos comunicar dentro de um espaço geográfico tão extenso, tão cheio de distintos comportamentos sócioculturais.

Brasileiros sempre foram criativos, sabem se virar bem, não só por ser brasileiro, mas, por todos os tipos de sangues que correm em suas veias. Os portugueses que aqui chegaram já não eram 'puros', possuiam muita mistura de povos, nós somos a continuação desse monte de cultura em uma só. Ver nossa riqueza cultural e, consequentemente, habilidades intelectuais pode ser um grande impulso para lidar com a realidade atual.

Gilberte Freyre, através de seu olhar, tenta mostrar que em nenhum lugar existe a perfeição comportamental, não adianta ficarmos apontando a grama do vizinho como sendo mais verde do que a nossa. É preciso aceitar, entender, interpretar e viver. Valorizar nossas próprias riquezas e fracassos na tentativa de sempre adicionar novos valores à essa cultura tão dinâmica.

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