Várias Moedas

De um lado da calçada, em meio as diversas filas da lotação, o guri tentava vender seus chocolates. "Vai um chocô aí?!", gritava e, às vezes, sussurrava próximo à alguém. Não parecia muito preocupado, vez ou outra, parava para papear com seus colegas.

Do lado contrário, distante dos olhos, com cobertor sobre o corpo e odor forte, um morador de rua. Estava mais para andarilho em seus passos sem direção. Não vendia nada, muito menos pedia. Então, foi se aproximando do garoto do chocolate. Apontou no chão e continuou.

O guri não entendeu, bem como seus colegas, mas na curiosidade de um pré-adolescente olhou a direção apontada. Lá estava uma moeda de cinco centavos. Todo feliz com a conquista, mostrou para quem estava perto. E, novamente, o andarilho já estava distante dos olhos.

Ainda empolgado com seu tesouro, sem esperar, uma mão esticou em sua direção e depositou um punhado de moedas. Era ele novamente, o cobertor não permitia ver nem sua expressão facial, apenas o braço fugia do calor daquele cobertor encardido, pronto para dar mais alegria ao guri.

Não era a compra de um chocolate, e, sem entender, o garoto sorriu satisfeito. Quando se deu conta do que tinha na mão, apenas agradeceu. Voltou os olhos para seus colegas, que interrogavam a situação. E, ao retornar a atenção para o andarilho, como numa tentativa de questionar a ação, ele não estava mais lá.

Já tinha se aconchegado em seu cobertor e dado continuidade no caminhar.