Correria Matutina

Em uma mão a chave, na outra o copo térmico, com café quente, luta para se equilibrar junto com o sanduiche de queijo e salame, também quente. No ombro a bolsa, nada leve, bate no corpo a cada passo dado.

Passos acelerados, movimentos agéis e cuidadosos; o portão é fechado, a chave passa para o bolso interno da bolsa e o café pula para a outra mão. Mais velocidade, uma quantidade de café quente cai na mão e termina de acordar a atrasada, então, lembro que preciso comprar o jornal.

Engulo o café e o pão, pego as moedas e troco pelo jornal da manhã. Ao longe, vejo meu ônibus e corro. Preciso alcançar, caso contrário, só daqui meia hora. Ainda procurando pelo fôlego perdido no meio da rua digo: bom dia! - ao motorista, enquanto lembro da urgente necessidade de fazer exercícios.

Hora das notícias do dia: clima, crimes, segurança, reformas, shows...

- Com licença! - Solicita o passageiro sentado ao meu lado. Me desconcentro, fico aliviada ao saber que a bolsa pesada e o grande livro não ficarão mais em meu colo. Relaxo...

Ponto final!!! Sem parar a leitura: a música clássica recebe um novo regente, canadense, bonitinho... - pego a bolsa e pulo do ônibus - continuo lendo - Subo a escada rolante...Jogo fora o Caderno 2. Passo a roleta. Estranho, sinto um vazio...e, então, cai a ficha:

- Meu livroooo!!!...

Corro, mais do que a somatória de todos os passos acelerados do dia. Torço para estar lá, ponto final demora mais para sair, mas...tem a lei de Murphy né?!

- Por favor, sabe onde está o motorista. - Pergunto, menos desesperada, pois o ônibus estava ali parado.
- Foi no fiscal. - Informa a moça enquanto aponta a direção.

- Hum, quem é o responsável da linha...
- Ah! Veio atrás do livro?!...Vem comigo. - Disse o cobrador já com um sorriso no rosto, retribui e acompanhei. - Eu vi e guardei. Imaginei que retornaria. Levei um susto, pensei até que era uma Bíblia.
- Muitíssimo obrigada! Não sei como posso ter esquecido, nem pequeno é...

Com a bolsa de um lado, o livro apertado ao peito, voltei a passos tranquilos. O cartão não autorizou a passagem, era preciso aguardar quinze minutos. Ainda estava atrasada, mas tinha decidido ter uma segunda sem estresse. Então, o homem do metrô, me olhou:

- Firme?!
- Firme...Só estou aguardando, porque blá, blá, blá...Mau terminei de contar minha aventura, ele sorriu e abriu a porta para eu passar sem pagar. Agradeci...

De certa forma, senti a manhã brincando e sorrindo, não de mim, mas, comigo.

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