Modernidade de Baudelaire

O progresso na vida moderna confunde a cabeça daqueles que vivem esse momento. Baudelaire é um indivíduo que vivenciou esse momento desde o início. Isto é, passou pela etapa de estranheza e não aceitação do novo, facilitando sua análise crítica. Assim como, o momento de não total compreensão, porém, a vivência mais pacífica com o acontecimento.

Em suas obras literárias faz questão de mostrar o desenvolvimento da sociedade, rumo ao progresso, à modernidade. Desenhando em palavras as reações comportamentais e transformações do espaço urbano. Seja pelo comportamento da sociedade ou transformação espacial – boulevards, cafés, eletricidade, pobreza, riqueza, etc. – sendo o boulevard a maior marca da vida moderna parisiense.

A construção de um novo homem como reação a essa novidade do espaço. Complicado concluir se o comportamento é a razão da mudança espacial se é o espaço que muda o comportamento. Pois, no decorrer da discussão observa-se uma transformação quase que conjunta. Seja do espaço para atender as expectativas ou, do homem para lidar com o ‘caos’ desse novo espaço.

“Baudelaire nos mostra algo que nenhum escritor pôde ver com tanta clareza: como a modernização da cidade simultaneamente inspira e força a modernização da alma dos seus cidadãos”. (BERMAN:177)

Os Boulevards, por exemplo, acabam sendo os reais motivos para o desenvolvimento de todo o resto da Paris. É a partir da construção destas vias que a cidade é reformulada. As ruas retas que estimulariam os negócios, também facilitariam o movimento da segurança para possíveis insurreições populares. Entretanto, mais para frente, colocariam todos em nova discussão urbanística/comportamental. A Paris, até então, isolada, se unifica.

“Os bulevares de Napoleão e Haussmann criaram novas bases – econômicas, sociais, estéticas – para reunir um enorme contingente de pessoas”.(BERMAN:181)

Os cidadãos se veem em uma nova realidade onde a adaptação é necessária. A valorização do espaço público cria uma Paris apaixonante, ao mesmo tempo em que apresenta uma miséria, até então mascarada, mais próxima. O belo e a realidade, não tão bela, ocupam o mesmo lugar.

Essa ambigüidade comportamental/espacial parece acompanhar todo o percurso do desenvolvimento da cultura moderna. Seja no período de descobertas de Baudelaire ou, no período em que Baudelaire encontra-se inserido nesta nova realidade. Pois, assim como a sociedade: se esta não vence o ‘caos’, ela se insere nele para lidar melhor com a situação, ou, pelo menos, tentar.

Nesta construção parisiense é possível observar uma certa semelhança com o atual momento de construção e reformulações espaciais da cidade de São Paulo, talvez, até arriscar um comportamento da Paris moderna. Entretanto, cabe observar se os mesmos erros serão cometidos ou, se serão, sabiamente, contornados.

Mais do que lidar com novidade, a modernidade se apresenta como um momento difícil de vivenciar, pois exige profundidade sem muita individualidade, na permanente construção de uma unidade mundial.

0 Comentários