Caro... mas não vale.

A verdade é que muitos de nós somos criados para entender que tudo o que é caro, ou tem exatamente o valor que não podemos pagar, tornando-o muito mais desejável, é O MELHOR!

Quando nascemos o médico mais caro é o melhor profissional. A maternidade mais cara, top de linha. As escolas precisam ser as mais caras para significar a excelência em sua qualidade de ensino. Brinquedos, sem comentários, quantas meninas não desejaram aquele power carro original da Barbie e quantos meninos não ansiaram em ver seus dedos no controle remoto mais surreal.

A vida vai acontecendo, o crescimento, e então, a tão esperada, mas não tão tranquila, fase adulta chega. Quando acredita-se que o amadurecimento lhe fará compreender alguns opostos que aconteceram durante a vida, a briga ainda é grande para convencer a mente e costumes de que o caro não significa exatamente o que a de melhor.

A primeiro momento busca-se o razoavelmente o agradável e não tão salgado. Delícia! Uma vaga lembrança da comida de casa, bem vaga é verdade. O bolso e estômago ainda acha que a junção - bom e barato - não é lá grande coisa. Que tal mais uma caminhada.

Ah agora sim. De fato ótimo custo benefício delicioso. Na mosca!!!

A proposta é comer bem, sem gastar muito e separar alguns dias para experimentar aqueles lugares que não farão tanta parte do cotidiano. O estômago agradece os agrados, se senti honrado e o bolso aplaude a decisão sábia. Mas a cabeça é teimosa:

_ Vamos hoje vai!!! Só hoje!!! É só um pouquinho fora mas, lembre-se, caro = delicioso.
Entre discussões de um neurônio e outro. O corpo foi levado antes que o racional reagisse ao contrário. Cantarolando pelo caminho, lá estava ele todo pomposo. Respira fundo e entra.

Hum...Interessante, porém ainda com o pé atrás o conquista era bem lenta. A avaliação final só seria dada após a degustação. Neste caso teria que ser excepcional já que o corpo desejava aquele prato a tanto tempo.

_ Que beleza...Parece bonita (pensa os agora amigos inseparáveis estômago e cabeça).
Ops...Impressão ou acabei de notar que não fui atendida adequadamente. Imagina deve ter sido uma leve impressão. Apenas o racional arrumando uma desculpa para sair logo daqui.

Mas perae de novo?! Como assim não respondeu o que perguntei e ainda fez cara feia?! Ok, muita calma, concentração no apetitoso bife de picanha com alho frito acompanhado de uma leve salada. Organizo a mesa para comer devagar, deixando que o paladar trabalhe e que o resto venha por consequência.

_ Tec, tec, tec...fuuuuuuuuu. Bip, bip... plat, plat. O barulho não parava um segundo, a cabeça não sabia mais onde devia se concentrar, saudades do pequeno restaurante onde nem o ventilador faz tanta algazarra. A decepção começa a ser semeada.

O primeiro pedaço de carne é cortado, levo-o até a boca, os dentes começam a trabalhar e, bem, não foi um sorriso satisfeito que se formou na face. Pelo contrário. Entretato ainda tem a salada, não desista. Confesso que estava normal.

Que tal uma sobremesa? Talvez o segredo (entenda valor) de tudo esteja na sobremesa. A variedade não era grande, optei pela simples gelatina com leite condesado, que apesar da sua simplicidade foi o prato mais saboroso que comi naquele lugar. Vontade de mostrar a língua para os que me atenderam mau. Deixo tudo na mesa e rumo ao caixa. Essa por sua vez foi simpaticíssima comigo do início ao fim. Nem reclamei de nada para ela.

Estava partindo, com todas as minhas análises quando meus olhos fisgaram a maravilhosa máquina de café que tinha logo ali do lado. Hummm!! Café! Nem preciso dizer mais nada, larguei a porta de lado e fui direto até ela. Aperta o botão. Espera! La, la, la café!!! Enrrugo a testa... café?! Aperto o botão com mais força, talvez a máquina não tenha me compreendido, ou o restaurante organizou um complô contra minha visita.

_ Por favor?! Desculpe, mas acho que não sei mexer nessa máquina. O café não está saindo.

_ Ah, só um momentinho.

Tudo bem espero, estou apenas curtindo o novo. A moça aperta o mesmo botão e nada. Aperta outro e a máquina gospe com toda a sua força vapor e água quente, mais um pouco eu ficava queimada. Sorriso. Desliga e liga, até parece computador. Ela grita:

_ Fulana, ajuda aqui. Não está saindo café.

_ Senhora (falando em minha direção!) aguarde um momentinho que ela já ira arrumar.

Sento e abro minhas leituras enquanto as duas brigam com a máquina. Aparentemente indefesa conseguiu ganhar de goleada. Foi feia a partida.

_ Com licença. Desculpe, mas realmente a máquina quebrou e não teremos café hoje. Sinto muito mesmo. Bem se a senhora (eu de novo - ainda em tempo: prefiro senhorita) quiser continuar lendo fique à vontade.

Sorri, quando na realidade queria gritar exigindo algumas gotas de cafeina. Abri a porta e caminhei rumo ao finito, olhando para o lado, para aquele restaurante, sabe aquele...

1 Comentários

  1. Anônimo9:58 PM

    Reforço o que já escrevi aqui uma vez: a vida é realmente engraçada! Às vezes, cobiçamos tanto uma coisa que esquecemos de aproveitar tudo o que há perto da gente.

    Muitas vezes, o restaurantezinho tranqüilo da esquina é muito melhor do que aquele chique da rua cara. Mas a gente só descobre isso experimentando.

    Além disso, o lugar pode ser bom. Não custa tentar, né?!

    Foi uma pena o que houve com você. Sentir-se frustada, mesmo que seja com comida, é ruim. Mas, em minha opinião, o pior de tudo foi as pessoas te tratarem mal. Carol você com certeza não merece isso!

    Mas não se preocupe... Você é superior a tudo isso!

    Beijos :)

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