Olha eu aqui !


Estava curtindo sua ciesta habitual, em lugar nada normal, a verdade é que seu tamanho também é estranho para os padrões atuais. Entretanto se comparado ao seu trabalho o tamanho fica a ser discutido por longo tempo.


O carrinho, seu trabalho, é maior do que ele. O cachorro, fiel companheiro, aconchegado ao seu lado não latia, com os olhos fundos cuidava de seu dono enquanto recebia carinho de crianças curiosas e surpresas com sua imensidão, podiam até montar nele. Qual criança nunca sonhou em cavalgar em seu cão?!

A pequinês de sua garrafa de café atrai atenção, importantíssimo energético que não é nada proporcional, uma dose completa, provavelmente, não seria suficiente para levantar uma perna sua, quanto mais lhe dar força para um dia inteiro de trabalho pesado. Sua grande mão segura delicadamente um pequeno globo. Talvez a sensação de ter o mundo em suas mãos lhe torne grande, ou, a mediocridade do mundo cuidou para que esse se sentisse insignificante.

Todos lhe enxergam, dessa vez impossível passar desapercebido, e ficam fascinados. Se os olhos vêem além do que o que está ali complicado saber, contudo as mãos anseiam por tocar e sentir. A sua perfeição é de fato surpreendente.

Mesmo com toda a atenção, antes nunca recebida, ele não se move, não reage, não grita por clemência, nem nada semelhante, apenas fica ali parado vendo ao longe. O que pensa? O que vê?

Deseja uma vida mais justa?! Uma carga de trabalho menor e uma garrafa de café mais satisfatória! No lugar do cachorro o acréscimo de amigos e familiares! Que o mundo fosse maior e menos marginal para que pudesse ocupar o seu espaço sem problema algum! A verdade é que muito pode causar àqueles que realmente lhe vêem, basta passar, parar por alguns segundos, observar e deixar que os pensamentos falem por si só.

Ainda reflito sobre o que mais me impressionou na cena, às vezes, me pego discutindo sobre varias questões que podem ser levantadas com a presença dele e, tenho a lembrança martelada pelo fato dele estar tão próximo do conhecimento, daquilo que dizem ser o grande salvador de estados precários.

O seu sagrado descanso acontece ao lado de uma livraria, mas lá está ele parado, apenas olhando. Não sei se sua escolha foi proporcional, só sei que é como se tivesse à mão o necessário para mudar muita coisa e ao mesmo tempo completamente distante. Até que ponto a mudança realmente esta próxima? O conhecimento é de fato sua melhor alternativa?

O jeito é aguardar. Quem sabe da próxima vez que visitar o espaço ele tenha tomado alguma atitude e resolvido dar um passo a mais. Ficarei apenas curiosa em saber qual foi à decisão, qual caminho resolveu seguir. Seria interessante se trombasse com ele por ai, hunf, quem sabe já trombei e nem me dei conta.

Mais do que esperar que os outros te percebam e o socorram, é importante deixar-se ser visto, não por olhos estranhos e sim pelos seus próprios. Compreender que a realidade é esta e que se algo necessitar de mudanças elas dependem em grande parte daquele que necessita. Aprender a usufruir adequadamente sua visão pode ser uma grande virtude e diferencial no que será visto ao redor do mundo.




"O Fazedor de Montanhas"
Artesão: Silvio Galvão
Conjunto Nacional - Av. Paulista, 2073

(Próx. Metrô Consolação)

1 Comentários

  1. Anônimo8:40 PM

    Uau! Eu realmente gostei do texto, da descrição, da sua imagem... isso é muito rico de detalhes e impressões pessoais. Com certeza, um texto louvável! Gostei muito... Sério! Beijos :)

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